Opinião – De gestão para gestão: a receita do sucesso na Educação

Nayra Gazafi*
Imagine que você está na cozinha, preparando um jantar importante. Tudo está organizado: ingredientes separados, receitas à mão. De repente, outra pessoa assume o preparo, sem qualquer explicação sobre o que foi feito ou o que falta. O resultado? Confusão, retrabalho e um prato que pode nunca chegar à mesa. Agora, aplique essa metáfora à transição de gestão em uma Secretaria de Educação. Quando mal conduzida, quem perde são os estudantes.
Nas eleições municipais de 2024, mais de 2.400 prefeitos foram reeleitos, um impressionante índice de 82%. Contudo, mesmo com essa alta taxa de reeleição, a alternância de poder em governos democráticos não é apenas frequente, mas esperada. No caso das Secretarias de Educação, mudanças nas equipes gestoras são comuns mesmo quando o chefe do Executivo permanece. Isso exige que o processo de transição seja transparente, organizado e voltado ao interesse público.
A transição de gestão é mais do que uma formalidade administrativa: é um ato republicano que preserva o legado de uma gestão e garante que a próxima equipe tenha condições de avançar. Porém, na prática, a troca de informações feita às pressas ou de forma incompleta cria gargalos. É comum que novas equipes encontrem dados desorganizados, projetos abandonados ou informações estratégicas não compartilhadas.
Um exemplo positivo vem de municípios organizados em Arranjos de Desenvolvimento da Educação (ADEs). Essas redes intermunicipais demonstram que a colaboração e o planejamento estratégico durante as transições podem superar desafios estruturais. Por meio de memoriais de gestão detalhados e reuniões de transição, essas iniciativas garantem que a troca de equipes não signifique uma ruptura nos serviços educacionais.
Uma das ferramentas mais eficazes para uma transição responsável é o Memorial de Gestão. Esse documento reúne informações sobre a estrutura da rede de ensino, projetos em andamento, indicadores de desempenho, orçamento e recursos humanos. Ele orienta a nova gestão, assegura transparência e facilita a prestação de contas. Imagine um Memorial que detalhe a evolução das matrículas, os projetos pedagógicos em andamento e a situação das obras escolares. Com esses dados, a nova equipe pode evitar interrupções e até implementar melhorias com base no que já foi realizado.
Além disso, há um impacto financeiro significativo. Uma transição mal conduzida resulta em desperdício de recursos. Obras paradas, contratações irregulares e a descontinuidade de programas alimentares ou de transporte escolar geram custos que poderiam ser evitados. A falta de transparência também pode levar a sanções dos Tribunais de Contas, que frequentemente auditam esses processos.
Uma transição de gestão bem-sucedida depende de diálogo. As equipes de saída e de entrada precisam trabalhar juntas, deixando rivalidades políticas de lado em nome do interesse público. É essencial pactuar um cronograma de reuniões, definir responsabilidades e manter a comunidade escolar informada. Isso não é apenas bom senso administrativo, mas também um compromisso ético com a continuidade educacional.
Para os próximos anos, os municípios podem se inspirar nos ADEs, que promovem a cooperação entre cidades vizinhas, trocando experiências e padronizando práticas eficazes de transição. Além disso, institucionalizar a transição de gestão, como ocorre na esfera federal, é um passo necessário para fortalecer a Educação pública no Brasil.
Nesse sentido, recomendo a leitura do livro Transição de Gestão na Secretaria de Educação. A obra reúne relatos de experiências e orientações práticas sobre como conduzir uma transição de forma transparente, organizada e eficiente. Ela destaca a importância de ferramentas como o Memorial de Gestão e traz exemplos inspiradores de municípios que superaram desafios por meio da colaboração intermunicipal.
A transição de gestão não é um momento para improvisos. É a oportunidade de transformar o fim de um ciclo em um novo começo, assegurando que a Educação continue sendo um direito garantido e não um jantar interrompido. Afinal, o que está em jogo são as oportunidades de aprendizado de nossas crianças e jovens. E não podemos falhar com eles.
*Nayra Gazafi é jornalista, mestranda em Comunicação e Política na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e analista de Comunicação no Instituto Positivo (IP). ngmoraes@positivo.com.br