Se Bolsonaro pode fazer live da UTI para vender capacete, também pode ser intimado na UTI

Na terça-feira, 22 de abril, o ex-presidente Jair Bolsonaro participou de uma live ao lado do senador Flávio Bolsonaro diretamente de seu leito na UTI, no hospital DF Star, em Brasília. O objetivo da transmissão? Promover um capacete de grafeno de uma empresa onde ambos são sócios.
A cena, que beira o absurdo, evidenciou disposição física e interesse comercial, mesmo após uma cirurgia intestinal de 12 horas. A live foi justamente o que motivou o Supremo Tribunal Federal a autorizar, no mesmo dia, que uma oficial de Justiça entregasse a Bolsonaro uma intimação da Polícia Federal — ainda durante sua internação.
O documento foi levado até o hospital, e Bolsonaro assinou o recebimento às 12h47, dando ciência formal da intimação no próprio leito. Ele é investigado por envolvimento em uma trama golpista após as eleições de 2022, e já foi indiciado por crimes como tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito e organização criminosa.
A contradição é gritante: se há força para fazer propaganda ao vivo, há força para responder à Justiça. Internação não pode ser escudo para quem sempre fez da exposição pública um instrumento político.
Fazer live da UTI é escolha. Ser intimado na UTI é dever. E quem se expõe, também responde.