Quando a internet e a arma de um CAC em casa viram tragédia

O Brasil ainda tenta entender o horror que se desenrolou dentro de uma casa em Itaperuna, no interior do Rio de Janeiro. Um adolescente de 14 anos matou o pai, a mãe e o irmão de apenas 3 anos. Enterrou os corpos em uma cisterna e, segundo a investigação, planejava fugir para o Mato Grosso, onde encontraria a namorada virtual de 15 anos. Foi ela, de acordo com a polícia, quem o incentivou a cometer o crime. O objetivo dos dois era simples e brutal: ficar juntos, custasse o que custasse.
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A arma usada para matar a família estava dentro de casa, registrada no nome do pai, que era CAC, ou seja, colecionador, atirador desportivo e caçador. O homem, que provavelmente acreditava que aquela pistola garantiria a segurança da família, acabou morto pelo próprio filho. A arma que ele pensava que protegeria o lar foi a mesma que destruiu tudo.
Mas o gatilho não foi apenas de metal. Foi virtual. O casal de adolescentes se conheceu em um jogo online quando ainda eram crianças. Mantiveram um relacionamento secreto por anos, trocando mensagens sem qualquer supervisão. Entre declarações de amor, ameaças, chantagens emocionais e planos macabros, o menino foi pressionado a “provar que era homem”. Para isso, matou quem o criou. Depois, planejava usar o dinheiro da família para viajar até a namorada, que também pretendia matar os próprios pais.
Esta tragédia não é um caso isolado. É um alerta. Nos últimos anos, o Brasil testemunhou uma série de ataques a escolas organizados por jovens aliciados em grupos de redes sociais, fóruns clandestinos e aplicativos de mensagem. Crianças e adolescentes estão sendo manipulados online, incentivados por comunidades extremistas que ensinam, motivam e celebram a violência. Muitos pais não fazem ideia do que acontece por trás de uma tela de celular.
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Tudo isso mostra duas urgências: regular a internet e discutir o fácil acesso a armas dentro de casa. É inaceitável que plataformas de jogos, redes sociais e aplicativos de mensagem continuem se isentando de responsabilidade enquanto grupos de ódio recrutam menores para cometer crimes. É igualmente inaceitável que armas fiquem ao alcance de adolescentes, treinados pelos próprios pais para atirar, sem imaginar que um dia poderiam virar o cano para a própria família.
Liberdade virtual não pode ser sinônimo de terra sem lei. Segurança doméstica não pode significar facilitar tragédias. Precisamos cobrar responsabilidade das empresas de tecnologia, que devem criar filtros, denunciar ameaças e colaborar com investigações. Precisamos de autoridades que fiscalizem quem tem acesso a armamentos e de famílias mais atentas ao mundo virtual em que seus filhos navegam todos os dias.
Esta tragédia não pode ser só mais um caso policial a ser esquecido. Que ela sirva de alerta para uma sociedade que ainda acredita que um revólver na gaveta e um celular destravado na mão de uma criança não sejam riscos. A arma que deveria proteger virou o instrumento do fim. A internet, que poderia aproximar, virou cúmplice da violência. É preciso agir agora para impedir o próximo disparo.