PR-317: Azar de uma empresa ruim ou de um governador omisso?

A recente cena em Paiçandu, onde trabalhadores foram impedidos de se manifestar durante um evento com o Governador Ratinho Junior, expõe uma ferida aberta na gestão pública do Paraná e um paradoxo incômodo. Enquanto o governador posava para fotos, celebrando a entrega de casas populares, a poucos metros, mais de 100 famílias, cujos provedores trabalharam na duplicação da PR-317 entre Maringá e Iguaraçu, clamavam por direitos não pagos.
A defesa da liberdade de expressão, frequentemente evocada em discursos, parece ter seus limites definidos pelo nível de conveniência do palanque. Para os trabalhadores da construtora que abandonou a obra, a liberdade de estender uma faixa e cobrar o poder público foi negada, um ato que contradiz a retórica de um governo que se pretende democrático e aberto.
A resposta do governador à crise é, talvez, mais reveladora que o próprio problema. Ao afirmar que a escolha da empreiteira foi um “azar” e que a empresa era “muito ruim”, Ratinho Junior tenta se desvencilhar de uma responsabilidade que é intrinsecamente sua. A seleção de uma companhia para uma obra pública de tal magnitude não é um jogo de sorte; é um processo que envolve critérios técnicos, fiscalização e, acima de tudo, responsabilidade fiduciária. Alegar “azar” é admitir, no mínimo, uma falha grave nos mecanismos de controle e licitação do Estado.
A responsabilidade de um governante não se encerra com a assinatura de um contrato ou com a transferência de fundos para a empresa contratada. O poder público tem o dever de garantir que todo o ciclo da obra seja cumprido, o que inclui a obrigação mais básica: o pagamento de quem a executa com seu suor. A afirmação de que “pagou a empresa” soa como uma burocrática lavagem de mãos, ignorando o drama humano de trabalhadores deixados à própria sorte.
É no momento da adversidade que a verdadeira fibra de um líder é testada. Uma boa gestão não se mede apenas pelas inaugurações e notícias positivas, mas pela capacidade de enfrentar e solucionar os problemas que emergem. A crise na PR-317 exigia do governador uma postura de mediador e solucionador, convocando a empresa, utilizando os recursos legais e políticos para garantir os pagamentos, especialmente considerando que a mesma ainda teria outras obras e créditos com o Estado.
A omissão do governo empurrou os trabalhadores para a única via que lhes restou: o protesto. A promessa de que não permitirão que outra empresa assuma o canteiro de obras antes que a dívida seja quitada é um prenúncio de que o problema, longe de estar resolvido, pode se agravar, paralisando ainda mais uma obra importante para a região.
Resta a pergunta que ecoa entre as famílias desamparadas e os cidadãos que observam o impasse: tivemos o azar de ter uma empresa ruim executando a obra, ou o infortúnio de ter um governo que, diante do problema, opta pela omissão e se esconde atrás da desculpa da má sorte? A resposta parece estar na diferença entre um gestor que assume a responsabilidade e um político que apenas colhe os louros.
Uma pergunta ao Governador: A Agepar não é a responsável pela fiscalização dos serviços prestados por terceiros aos paranaenses ela fechou os olhos para o caso da PR 317 ou falhou?