“Café no Bule” para presidente? E a suposta dívida de R$ 80 milhões da família em impostos?

“Café no Bule” para presidente? E a suposta dívida de R$ 80 milhões da família em impostos?

Em meio a um cenário político polarizado e à constante avaliação de novas lideranças para o campo da direita no Brasil, o governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), vê seu nome cotado para voos mais altos, como uma possível candidatura à presidência. No entanto, uma persistente sombra paira sobre sua imagem pública e a de sua família: uma suposta dívida milionária de suas empresas com o Governo Federal. O tema, que ressurge periodicamente na imprensa, coloca em xeque a coerência entre o discurso de liberalismo e rigor fiscal, frequentemente defendido pelo governador, e a prática empresarial de seu conglomerado familiar.

Reportagens veiculadas ao longo dos últimos anos, especialmente entre 2019 e 2021, apontam para débitos tributários que poderiam ultrapassar a marca de R$ 80 milhões. As dívidas estariam vinculadas a empresas do Grupo Massa, do qual Ratinho Jr. é sócio ao lado de seu pai, o apresentador Carlos Massa, e outros familiares. Entre as companhias citadas estão a Agropecuária e Industrial Iguaçu e a Agropastoril Café no Bule.

A questão central, que alimenta a crítica e a desconfiança de parte do eleitorado, não é apenas a existência da dívida em si (empresas podem passar por dificuldades financeiras e buscar renegociações), mas a ausência de um esclarecimento público, claro e definitivo por parte do governador. Em um país que clama por transparência e combate à corrupção, a falta de uma resposta contundente sobre se os débitos foram quitados, se estão sendo parcelados ou se ainda são objeto de disputa judicial, gera um ruído inegável na comunicação de um político que se projeta nacionalmente.

Em uma única ocasião, em 2023, a assessoria do governador se manifestou sobre uma dívida de valor consideravelmente menor, na casa dos R$ 689 mil, afirmando que a mesma estava sendo quitada de forma parcelada. Contudo, sobre os valores mais expressivos, que compõem o cerne das acusações, o silêncio tem sido a estratégia predominante, com veículos de imprensa relatando, à época das primeiras denúncias, a falta de um posicionamento oficial do Grupo Massa.

Para um político que, como o próprio governador, se diz um defensor da liberdade de expressão e da transparência, a recusa em abordar abertamente um tema de tamanho interesse público soa contraditória. O eleitor brasileiro, cada vez mais atento e exigente, tem o direito de saber se um potencial candidato à presidência da República, que gerencia um estado e defende a responsabilidade fiscal, cumpre com suas próprias obrigações tributárias em âmbito privado.

A questão transcende a mera curiosidade sobre as finanças da família Massa. Ela toca em pontos nevrálgicos da política brasileira: a relação entre o poder público e o privado, a isonomia no tratamento de devedores da União e, acima de tudo, a coerência exigida de um líder. Ao não se posicionar, Ratinho Jr. abre margem para especulações e permite que a narrativa seja construída por seus opositores, que não hesitam em explorar a pecha de “calote” e “dívida milionária”.

Portanto, antes de almejar o Palácio do Planalto e se apresentar como a renovação da direita, seria um gesto de respeito à cidadania e de fortalecimento de sua própria imagem que o governador do Paraná viesse a público. Não para se justificar de forma evasiva, mas para apresentar fatos, documentos e esclarecer, de uma vez por todas, a real situação fiscal de suas empresas. Afinal, a liberdade de expressão que ele defende também ampara o direito do cidadão de cobrar e de ser informado. O silêncio, neste caso, não é de ouro; é um passivo político que, se não for sanado, pode custar caro em seus projetos futuros.

Redação O Diário de Maringá

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