Ódio Online: Como o Masculinismo Identitário Conquista Jovens e Lucra com a Misoginia

Ódio Online: Como o Masculinismo Identitário Conquista Jovens e Lucra com a Misoginia

Por Fúlvio B. G. de Castro
Professor de Sociologia e Bacharel em Direito.
O avanço do masculinismo nas redes sociais revela um fenômeno inquietante: a transformação do ódio em um produto altamente lucrativo. Mais do que um simples machismo — já presente há séculos —, a nova face dessa ideologia é identitária e orgulhosa. Seus adeptos se assumem “machistas” publicamente, associando masculinidade a força bruta, papel de provedor e dominação sobre as mulheres.
Essa lógica funciona de forma dialética: ao reforçar o “homem ideal” como rude e dominante, também molda a “mulher ideal” como frágil, submissa e dependente. Essa narrativa encontra terreno fértil na “machosfera” brasileira, onde canais misóginos das redes sociais transformam preconceito em receita. Através de anúncios, doações e produtos digitais, influenciadores antifeministas movimentam milhares de reais, explorando estereótipos de gênero e pregando controle sobre as mulheres.
A engrenagem que mantém esses espaços no ar não é apenas ideológica — é financeira. Plataformas e big techs, mesmo sob críticas, pouco interferem, pois o conteúdo engaja, gera audiência e, consequentemente, lucro. “O ódio é lucrativo” tornou-se não apenas um diagnóstico, mas uma realidade de mercado.
O impacto é ainda mais grave sobre adolescentes. Nativos digitais, eles entram em contato com esse conteúdo muitas vezes de forma acidental. Em momentos de vulnerabilidade emocional — como uma rejeição amorosa —, encontram nesses grupos acolhimento e explicações simplistas para suas frustrações. O que começa como empatia aparente se transforma em manipulação: cursos, e-books e vídeos monetizados capturam emocionalmente e financeiramente esses jovens.
O resultado dessa radicalização aparece em casos que chocam o país. Recentemente, um jovem cearense foi flagrado espancando a namorada dentro de um elevador. Outros episódios de feminicídio se repetem Brasil afora, justamente no mês em que a “Lei Maria da Penha” completa 19 anos, expondo a permanência — e até o fortalecimento — da violência de gênero.
Enquanto a misoginia continuar sendo uma mercadoria rentável e as plataformas priorizarem o engajamento sobre a responsabilidade, o ciclo de ódio e violência tende a se expandir. E a conta, mais uma vez, recai sobre as vítimas.

Redação O Diário de Maringá

Redação O Diário de Maringá

Notícias de Maringá e região em primeira mão com responsabilidade e ética

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *