Gilberto Kassab lança Ratinho Jr. Pilatos à presidência: uma pré-candidatura com mais perguntas do que respostas

O anúncio de Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, de lançar o governador do Paraná, Ratinho Junior, como pré-candidato à presidência da República, coloca em evidência não apenas um novo nome no cenário político, mas também uma série de questionamentos sobre a atuação do político paranaense. A movimentação, que teria sido comunicada ao próprio presidente Lula, sugere um alinhamento estratégico, mas a candidatura, antes de decolar, precisa responder a uma série de desafios e críticas que pairam sobre sua gestão no estado.
A alcunha de “Pilatos”, que tem circulado nas redes sociais e em setores da oposição, resume uma das principais críticas a Ratinho Junior: a postura de se isentar de problemas complexos e transferir responsabilidades. Essa percepção se intensifica em temas de alta sensibilidade, como a anistia a Jair Bolsonaro, questão sobre a qual o governador tem evitado se posicionar de forma clara. Essa aparente neutralidade, vista por alguns como prudência, é interpretada por outros como uma fuga de temas espinhosos que poderiam comprometer sua imagem em diferentes espectros políticos.
Além da postura em relação a questões nacionais, a pré-candidatura de Ratinho Junior traz à tona pendências e polêmicas de sua própria gestão no Paraná. Entre elas, a suposta dívida de mais de R$ 80 milhões em impostos de empresas da família com o governo federal. A ausência de um posicionamento contundente sobre o assunto levanta dúvidas sobre a lisura e a transparência de seu governo. Da mesma forma, a relação desgastada com o Sindicato dos Professores, com o qual não se reúne há quase oito anos, é um ponto sensível que expõe a falta de diálogo com uma importante categoria do funcionalismo público.
Ainda no âmbito estadual, a questão das obras paralisadas, como o trecho da PR-317 entre Maringá e Iguaraçu, é um problema concreto que atinge diretamente a população e os trabalhadores. A promessa de entrega ainda neste ano, diante da situação de empreiteiras que não pagam os funcionários e outras que nem sequer iniciaram os trabalhos, mostra um descompasso entre o discurso e a realidade. Essa lacuna entre o que se promete e o que se entrega é um ponto fraco que pode ser explorado por seus adversários.
Por fim, o montante de dinheiro público investido nas empresas de rádio e TV da família do governador é outro tema que, com o lançamento da pré-candidatura, ganha nova relevância. A questão, que já era motivo de debate no Paraná, agora se torna um ponto central no debate nacional sobre o uso de recursos públicos e a ética na política.
Antes de alçar voo para a disputa presidencial, Ratinho Junior precisa, portanto, responder a essas e outras perguntas. A pré-candidatura, ao invés de ser um trampolim, pode se tornar um holofote sobre as fragilidades de sua gestão. A trajetória de um candidato à presidência é escrutinada de ponta a ponta, e as respostas a esses questionamentos serão importantes para determinar se a imagem do “Pilatos” que se isenta de problemas pode se sustentar em uma disputa de tamanha envergadura.