Deputado que tentava intimidar vereadores contra a cassação de Cris Lauer é acusado de desviar R$ 1 milhão

O que a sociedade tem testemunhado é um assalto à inteligência e à ética. O deputado Ricardo Arruda, figura que se arvora em defensor da moralidade e da “tolerância zero”, chegando ao ponto de defender o “zerar CPFs” de praticantes de pequenos delitos, está hoje no centro de um escândalo que revela a face mais abjeta da hipocrisia política.
Enquanto clamava por rigor nas ruas, Arruda, o autodenominado “cidadão de bem”, operava um esquema de enriquecimento ilícito nos corredores do poder. As acusações são diretas e chocantes: a utilização do salário de seus próprios funcionários para pagar faturas pessoais e bancar viagens ao exterior. Em outras palavras, ele usava o dinheiro público destinado ao trabalho de seu gabinete como um talão de cheques particular para suas despesas pessoais.
O quadro se aprofunda com a nova ação movida pelo Ministério Público do Paraná. Delatado por um ex-assessor, Arruda é acusado de um sofisticado esquema de rachadinha em seu gabinete. O MP é categórico e pede a devolução de 1 milhão de reais, quantia que teria sido desviada na ação criminosa. A rachadinha não é um erro burocrático; é um crime de desvio que trai a confiança do eleitor e esvazia os cofres públicos em favor da ganância individual.
O Duplo Padrão: Intimidação em Maringá e Crime no Gabinete
A hipocrisia de Ricardo Arruda se torna ainda mais revoltante ao lembrarmos de sua atuação em casos alheios. Arruda é o mesmo deputado que, na época da cassação da ex-vereadora Cris Lauer em Maringá (acusada de improbidade por usar servidora comissionada como advogada particular), se engajou na sua defesa e, notavelmente, tentou intimidar os vereadores de Maringá com a divulgação de vídeos de apoio à parlamentar.
O contraste, agora, é evidente:
- Para a rua e para Maringá: Exige a lei mais dura para “pequenos delitos” ou tenta proteger aliados de punições por irregularidades. Seu método incluía a pressão pública e a intimidação contra os vereadores que aplicavam o rigor legal.
- Para si: É acusado de desviar 1 milhão de reais em um esquema organizado de rachadinha e de usar a máquina pública para enriquecimento pessoal.
Agora, as peças se encaixam: o político que usa táticas de pressão para proteger quem comete irregularidades é o mesmo que, supostamente, comete crimes muito mais graves. A seletividade moral de Arruda – que exige ética alheia enquanto comete crimes de colarinho branco – é o que mina a credibilidade das instituições.
O caso Ricardo Arruda não é apenas sobre corrupção; é sobre a falência da moralidade pública e a urgência de que a lei seja aplicada de forma justa e implacável. Não há discurso moralista que possa acobertar o desvio de 1 milhão de reais.