A lei de ferro de Ratinho Jr. derrete quando o réu é amigo do poder
A nota publicada pelo governador Ratinho Jr. sobre a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro expõe uma contradição que não passa despercebida. Para ele, Bolsonaro estaria sendo vítima da “insensibilidade do Poder Judiciário”, apesar de cumprir a ordem judicial em uma unidade com ar-condicionado, cama confortável, televisão, guarda-roupa e estrutura que supera a realidade de milhões de brasileiros, incluindo trabalhadores que nunca violaram tornozeleira nem respondem a processos criminais.
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Vale lembrar que a nova prisão não caiu do céu e decorre da suposta violação da tornozeleira eletrônica, algo que colocaria qualquer outro cidadão de volta à custódia sem direito a discursos de solidariedade.
Diante disso, surge a pergunta inevitável, que Ratinho Jr. finge não enxergar: se Bolsonaro não tem saúde para cumprir pena num ambiente confortável como esse, terá condições de ser presidente novamente? Ou a “facada” só dói quando convém ao ex-presidente utilizá-la politicamente?
O contraste fica ainda mais evidente quando lembramos o próprio histórico de Ratinho Jr. Ele é o mesmo governador que afirmou que, se os estados pudessem legislar sobre direito penal, os presos do Paraná cumpririam penas ainda mais duras, justamente num sistema com mais de 11 mil vagas deficitárias e condições amplamente criticadas por organismos de direitos humanos.
Para o preso comum, a rigidez é absoluta. Para o aliado político, a compaixão é imediata e a culpa recai sobre o Judiciário.
A verdade é simples: quando se trata de Bolsonaro, a régua moral muda. A “saúde frágil” vira argumento, o cumprimento da lei vira perseguição e o desconforto carcerário passa a ser tratado como tragédia nacional, mesmo quando esse “desconforto” inclui ar-condicionado e uma estrutura melhor que a casa de boa parte da população. Veja a Cela de Bolsonaro na PF:
No fim, o episódio escancara uma realidade incômoda. Não é a prisão em si que mobiliza Ratinho Jr., mas o preso específico. E isso diz muito sobre o uso seletivo da indignação no Brasil. Para uns, a lei deve ser de ferro. Para outros, basta a proximidade política para que qualquer punição vire injustiça.



