Bolsonaro confessa tentativa de manipular tornozeleira com ferramenta quente
Caiado e Ratinho vão defender o próximo condenado que tentar queimar a tornozeleira?
O vídeo anexado ao processo que investiga Jair Bolsonaro acrescenta um capítulo incômodo ao debate sobre Justiça no Brasil. Nele, a tornozeleira eletrônica aparece danificada, chamuscada, com sinais evidentes de queimada. No áudio, a diretora-adjunta da Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal, Rita Gaio, questiona o ex-presidente sobre o estado do equipamento. Bolsonaro responde sem hesitação, quase com naturalidade: “meti um ferro quente aqui”, referência ao uso de um ferro de solda para tentar corromper o dispositivo.
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Não se trata de um deslize. É a confissão explícita de uma violação deliberada de medida judicial. E aqui emerge a contradição que já não cabe debaixo do tapete. Quando um cidadão comum altera, rompe ou tenta fraudar uma tornozeleira eletrônica, o discurso político é duro, inflamado e categórico. Fala-se em punição imediata, rigor absoluto e intolerância com quem “desafia o sistema”.
Mas quando o protagonista é um político poderoso, o tom muda. O rigor vira silêncio, a indignação se transforma em justificativa e o discurso da lei universal dá lugar à proteção seletiva, aquela que só se aciona para quem tem sobrenome, influência ou utilidade eleitoral.
É por isso que a pergunta precisa ser feita de modo direto e sem rodeios. Na próxima vez que um condenado que não seja político, rico ou aliado tentar corromper a tornozeleira com um ferro de solda, Ronaldo Caiado e Ratinho Junior também vão sair em sua defesa? Ou essa comoção súbita com a “injustiça” é privilégio exclusivo para determinados réus?
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A diferença entre Justiça e conveniência está justamente aí. Quando a lei se curva ao poder de quem a viola, ela deixa de proteger a sociedade e passa a proteger interesses. E nenhuma democracia amadurece sustentando esse tipo de exceção.
