Americanos criam café molecular sem uso do grão
A agtech estadunidense Atomo Coffee recebeu um aporte de R$ 48,6 milhões para desenvolvimento do “café sem grão” com uso de engenharia molecular a partir insumos reciclados.
O motivo? Eles acreditam que podem melhorar o café e gerar menos impacto ambiental. É mais uma da série de invenções curiosas que já mostramos aqui como ovos sem galinhas, leite sem vacas, carne sem animais (gado, frango ou até mesmo peixe ou camarão) e outras.
Segundo a AgFunders, os investidores apostaram na ideia por conta do tamanho de mercado, os desafios da sustentabilidade na produção convencional de café e o fato de terem achado as amostras de cerveja fria da Atomo bastante saborosas.
“O café está entre as bebidas mais consumidas em todo o mundo. O consumo chega a 42,6 litros por pessoa, por ano”, disse Tony Lau, da Horizons Ventures, que também é membro do conselho da Atomo.
A expectativa é causar um grande impacto no mercado do ponto de vista da sustentabilidade já que, segundo ele, o setor tem o sexto maior impacto climático em termos de emissões de gases de efeito estufa por quilo de produto alimentar do planeta.
Além disso, há outro motivo. Cientistas do Kew Royal Botanic Gardens, em Londres, argumentam que até 75 das 124 espécies de café consumidas no mundo estão em risco de extinção. Entre elas, está o Arábica, que responde por 60% da oferta global de café, por conta de mudanças no clima.
Para Rob Leclerc da AgFunder, o esforço da Atomo é o início de uma mudança radical para o comércio de café, não muito diferente do que o advento de pioneiros de proteínas vegetais para os produtores de carne.
“Com os americanos bebendo 450 milhões de xícaras por dia, o café é maior do que a carne bovina – e já vimos o que a indústria de carne alternativa fez pela revolução alimentar”, disse ele.
Melhorar o café?
Segundo outra investidora da Atamo, Tess Hatch, da Bessemer Ventures, a adoção do café molecular vai além da preocupação ecológica e tem como principal objetivo tornar a bebida ainda melhor: “podemos adaptá-la para não ter amargura e conseguir melhor sabor”.
A Atomo afirma que sua tecnologia reproduz as características do grão de café com um grau de precisão muito maior do que as substituições existentes feitas de coisas como cogumelos ou amendoim.
A tecnologia foi desenvolvida a partir de pesquisas da Universidade Técnica de Munique e da Universidade de Ciências Aplicadas de Zurique para fazer a engenharia reversa de dezenas de compostos que compõem o sabor de um café “perfeito”.
Eles fizeram isso introduzindo combinações específicas de aminoácidos e açúcares no substrato de raízes e sementes de várias plantas e, em seguida, conduziram reações moleculares por meio de tostagem e torrefação.
Assim, a equipe priorizou a engenharia reversa do aroma, sabor, cor, teor de cafeína e sensação na boca do café usando ingredientes “reciclados”, ou seja, com ingredientes que não iriam para o consumo humano”.
O que é café?
A agtech foi fundada pelo CEO Andy Kleitsch e pelo diretor de tecnologia Jarret Stopforth, que tiveram a ideia depois de uma café “decepcionante”. Então, pensaram que deveria haver alguma maneira de “hackear” um bom café.
Em seguida, montaram a empresa e na primeira rodada de investimentos conseguiram 150% mais do que esperavam na cidade de Seattle, sede também do Starbucks. “Seattle é a confluência perfeita de tecnologia e café artesanal, então faz sentido que o café seja reinventado aqui”, disse Kleitsch.
Devido às restrições de trânsito da Covid-19, a dupla diz que está guardando seus estoques existentes “como ouro”, mas deve lançar seus primeiros produtos de café molecular no mercado em 2021.
Os reguladores permitirão que seja rotulado como “café”? Os co-fundadores da Atomo dão as boas-vindas a esse debate. Afinal, o que é café para você? “O café tem sabor e aroma originados do grão. Mas não precisa”, disse. (com informações da AgFunders)