Setor calçadista aposta em parcelamento e prevê alta
O varejo nacional de calçados, vestuário e acessórios deve movimentar aproximadamente R$ 22,82 bilhões em vendas neste Natal, de acordo com as Análises Econômicas da Confederação Nacional do Comércio (CNC). O valor corresponde a 31,4% do volume total do faturamento do varejo natalino e um aumento de 2,1% em relação ao mesmo período de 2024. O setor também prevê a criação de 22,58 mil vagas temporárias – crescendo 4% em relação ao ano anterior – representando 20% do total de vagas abertas no varejo para o período em todo o Brasil.
Os números demonstram a resiliência do segmento diante dos desafios enfrentados ao longo do ano, especialmente para as vendas externas. Em agosto, primeiro mês de vigência do tarifação de 50% imposto pelo governo norte-americano sobre produtos brasileiros, a exportação de calçados recuou 17,6%. Ainda assim, segundo a Abicalçados, entidade que representa a indústria calçadista nacional, a produção brasileira não foi desviada para o mercado doméstico, que já é quase plenamente abastecido pelos fabricantes brasileiros. "Não existe sobra no mercado doméstico", afirma a associação, apontando para o aquecimento das vendas de calçados.
Até agosto, conforme os últimos dados disponibilizados pelo IBGE, o volume de vendas do setor (considerando novamente a junção de vestuário, calçados e acessórios) havia crescido 3,9% em 2025 frente ao mesmo período do ano anterior. O crescimento do varejo é impulsionado por um mercado de trabalho aquecido: a taxa de desemprego registrou o menor índice da série histórica (5,4%), quase 1 milhão de novos empregos formais foram criados (em comparação com 2024) e a renda média do trabalhador atingiu um recorde de R$ 3.528.
Quem também vem trabalhando para criar um cenário favorável às compras são os próprios varejistas. Marcos Tavares, CEO do Grupo Aby’s, um dos maiores no comércio do varejo calçadista do Nordeste brasileiro, destaca que "o foco é tornar o Natal mais acessível e, ao mesmo tempo, elevar o valor percebido da experiência de compra". A rede de calçados, que opera 42 lojas entre Alagoas, Pernambuco e Sergipe, aposta em um mix de estratégias para impulsionar as vendas natalinas.
Entre as táticas para favorecer a decisão de compra do cliente está a facilidade de parcelamento. Para o diretor comercial do Grupo Aby’s, Michel Souza, por exemplo, as altas taxas de crediário, em função da Selic em 15% ao ano, ainda podem afugentar o comprador, mesmo em tempos de aquecimento como o Natal. "Por isso, temos diversificado as possibilidades de nossos clientes receberem descontos ou ampliarem a forma de parcelamento em até nove vezes em parcelas fixas", explica o executivo.
A rede também conta um cartão de crédito private label, o Aby’s Card, que oferece descontos na primeira compra e tende a ampliar a recorrência desse cliente em novas compras.
Outras estratégias para as vendas natalinas são os lançamentos de produtos exclusivos. "Estamos aumentando a percepção de valor e proporcionando uma experiência nova ao cliente, o que o aproxima da marca Aby’s de forma geral", lembra Marcos Tavares, CEO do Grupo. Um exemplo foi o lançamento de uma coleção criada pela Aby’s e que envolveu a marca Vizzano.
A "Coleção Celebrar" oferece aos clientes da Aby’s produtos exclusivos da marca Vizzano, do grupo Beira Rio. O diferencial da campanha não são apenas as sandálias para festividades de fim de ano, mas sim as pulseiras que as acompanham. Entregues ao cliente em uma caixa de joias, esses acessórios adicionam um toque de luxo e versatilidade às sandálias, estabelecendo um vínculo aspiracional entre os clientes e os pontos de varejo do Grupo. As sandálias e as pulseiras são vendidas apenas nas lojas físicas da própria Aby’s.
Em suma, a movimentação de grupos como o Aby’s reflete o otimismo prático que domina o varejo nacional. A aposta em um mix que combina crédito estendido para driblar a Selic e produtos de alto valor agregado surge como a chave para capturar a renda extra das famílias neste Natal. Diante de um mercado de trabalho pleno e de estratégias comerciais agressivas, o caminho está pavimentado para que o setor confirme o crescimento de 2,1% e garanta sua fatia de quase um terço de todo o faturamento natalino do país.


