No fim, a verdade aparece. Não faltam pés, falta cabeça

No fim, a verdade aparece. Não faltam pés, falta cabeça

Em 2014, em pleno clima de Copa do Mundo no Brasil, a Havaianas lançou uma campanha brincando com o “pé esquerdo”, estrelada por Romário. O mote era simples, bem-humorado e tipicamente brasileiro. Pegar uma superstição popular, não entrar com o pé esquerdo, e virar o jogo, transformando o azar em piada, leveza e identidade nacional.

Não havia política. Não havia provocação ideológica. Havia marketing criativo.

A marca fez o que sempre fez. Usou símbolos do imaginário coletivo, humor acessível e personagens populares para conversar com o público. Funcionou naquela época, funcionaria hoje e continuará funcionando amanhã, porque esse é o DNA da Havaianas.

O curioso, ou trágico, é que mais de uma década depois, a mesma lógica publicitária passa a ser tratada por alguns como afronta política. Uma metáfora vira mensagem ideológica. Um slogan vira ataque. Um convite simbólico à união vira motivo de boicote raivoso nas redes sociais.

O problema não é a Havaianas, é a intolerância defendida pelo subtenente Dioney, da Junta Militar de Maringá?

Isso diz muito menos sobre a Havaianas e muito mais sobre quem perdeu a capacidade de interpretar texto, metáfora e contexto.

Quem se ofende hoje com campanhas que falam em entrar com os dois pés, em união ou equilíbrio, precisa explicar por que não se incomodou em 2014 quando a marca brincou justamente com o pé esquerdo. A resposta é simples e incômoda. Não é sobre marketing. É sobre filtro ideológico seletivo.

A Havaianas não mudou. O que mudou foi parte do público, que passou a enxergar inimigos onde antes via apenas criatividade. Transformar propaganda em guerra cultural é empobrecer o debate, a comunicação e o próprio senso de humor.

A história mostra que marcas populares sobrevivem porque entendem o país real, diverso, contraditório e simbólico. Quem tenta impor leitura política forçada a tudo não está defendendo valores. Está apenas revelando insegurança, radicalismo e uma enorme dificuldade de conviver com o óbvio.

No fim das contas, a lição é clara. O problema nunca foi o pé esquerdo, nem os dois pés. O problema é quando falta cabeça.

Redação O Diário de Maringá

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