Mandela Day lembra importância de líder sul-africano para combate ao racismo
Celebrado no dia 18 de julho, dia de Nelson Mandela destaca luta contra Apartheid e traz reflexões para discussões antirracistas no século XXI
No dia 18 de julho de 2013 faleceu Nelson Mandela, o mais importante nome da luta contra o Apartheid na África do Sul. Liderança negra histórica, Madiba, como também era chamado, chegou a ficar preso por 27 anos pelo regime que ajudou a combater. Livre, chegou à presidência do país em 1994. Quase uma década depois de sua morte, aos 95 anos, seu legado para o movimento antirracista ainda perdura.
Do ponto de vista da história, tudo o que Mandela enfrentou ao longo de sua vida aconteceu ontem. Diante dos milhões de anos que soma o planeta Terra e dos milhares já acumulados pelo Homo sapiens, uma história que se passa entre os anos de 1940 e 1990 ainda é significativamente recente para ser esquecida. E a atuação de Madiba, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1993 em reconhecimento à luta contra o Apartheid, é inspiração para uma série de movimentos que vieram depois e têm se fortalecido nos últimos anos. A assessora de Geografia do Sistema Positivo de Ensino, Rafaela Pacheco Dalbem, explica que as batalhas vencidas no passado, inclusive a de Mandela, foram o ponto de partida para verdadeiras revoluções culturais e estéticas em todo o mundo. “O afrofuturismo, por exemplo, é um conjunto estético e corrente de pensamento que influencia a música, a literatura, o cinema e a moda, levando em consideração a diáspora africana e, consequentemente, muito de suas tradições. Na mesma medida de importância, essas tradições ganham novas roupagens e representações na atualidade”, detalha.
O afrofuturismo surgiu através de críticas da população negra ao não se ver representada em produções artísticas que são consideradas grandiosas dentro do seu campo. Rafaela explica que essa corrente é a ideia de considerar os negros no futuro, uma forma de contar novas histórias das populações negras. “Essa corrente, que tem uma forte pegada estética, surgiu da hipótese de falta de presença negra no futuro – e essa hipótese é baseada em dados, do presente e do passado, das populações negras”, conta. Por isso, quando era responsável pelo conteúdo de Geografia da África junto a algumas turmas de 8º ano, Rafaela buscava não contar apenas uma geografia daquele continente. “Mostrar outros lados ajuda na ponderação, na empatia e na alteridade. Qualidades fundamentais para gerar, de fato, consciência. Histórias como a de Mandela, o presidente negro e Nobel da Paz que lutava pela diminuição das sequelas coloniais em seu país, ajudam a mostrar esses outros lados”, completa.
A relevância de Mandela
Nascido em 1918, Nelson Mandela entrou na década de 1940 para o Congresso Nacional Africano (CNA), partido que se colocava contra a segregação racial promovida na época na África do Sul. Instituído pela minoria branca em 1948, o Apartheid retirou uma série de direitos da população negra do país, proibindo os relacionamentos entre negros e brancos, separando fisicamente negros e brancos na vida cotidiana e atuando violentamente na repressão aos negros.
O professor de História e coordenador do Núcleo de Evolução de Conteúdo do Sistema Positivo de Ensino, Norton Frehse Nicolazzi Jr., explica que a violência contra a população negra era brutal. “Em muitas cidades, os negros eram segregados em guetos, por exemplo, e precisavam de cartões de identificação para que pudessem sair deles. Mandela começou defendendo a ideia de desobediência civil contra as leis estabelecidas pelo regime, por meio de uma resistência pacífica. Mas, conforme a repressão aumentava, ele começou a participar da luta armada”, narra.
Em 1964, ele foi preso e condenado à prisão perpétua. Mas o acirramento do clima político no país, a resistência cada vez mais intensa de grupos como o CNA e as pressões internacionais – vários países passaram a aplicar sanções à África do Sul como forma de protesto contra o tratamento dispensado aos negros -, acabaram levando ao fim do Apartheid e à libertação de presos políticos, entre eles Madiba, a partir da década de 1990.
“Depois que assumiu o governo do país, ele se dedicou a enfrentar as consequências trazidas pelo regime que dominou a África do Sul por quase 50 anos. Em seu mandato, que se estendeu até 1999, Mandela criou projetos de educação, desenvolvimento, saúde e habitação para a população negra. Também foi fundamental na aprovação de uma nova constituição nacional”, afirma Nicolazzi. Mesmo depois de deixar a Presidência, o líder continuou trabalhando por causas sociais como o acolhimento às crianças e às vítimas do HIV.
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