EUA podem enfrentar escassez de 124.000 médicos até 2033
Na contramão da desaceleração econômica dos EUA, que preocupa os analistas com as altas na inflação, o mercado de trabalho americano segue otimista. A taxa de desemprego se mantém em 3,6%, o menor nível desde fevereiro de 2020. Neste cenário, um setor tem se destacado ainda mais quando o assunto é contratação: a medicina. A área que raramente tem problemas com desemprego, agora chama a atenção exatamente por um excesso de vagas. Uma estimativa da Associação Americana de Hospitais (AHA) aponta que os EUA podem enfrentar escassez de 124 mil médicos até 2023.
O U.S bureau of labor statistics, secretaria do governo americano responsável por coletar os dados sobre o mercado de trabalho no país, estima que os Estados Unidos precisam atualmente de mais de 16 mil trabalhadores de cuidado primário, entre médicos e enfermeiros.
Para o Diretor de Operações da Divisão de Soluções de Liderança da AMN Healthcare, James Taylor, a contratação de médicos nos EUA tem surpreendido nos últimos meses, “O mercado para médicos fez um 180 completo em apenas sete ou oito meses”.
A necessidade de profissionais em meio a escassez de mão de obra qualificada fica evidente também nos números relativos às ofertas de emprego para residentes. Dados da AMN Healthcare mostram que 86% dos residentes receberam mais de 10 ofertas de emprego. Desses, 62% chegaram a receber 26 ou mais ofertas de trabalho durante o período da residência.
A conjuntura tem sido vista como uma oportunidade para brasileiros que se dispõem a fazer a residência médica no país com o objetivo de emigrar. “A busca por qualificação para prestar o USMLE, o exame que todos os médicos americanos e estrangeiros devem fazer para atuar nos Estados Unidos, tem sido alta. Preparo médicos e estudantes de medicina para todas as etapas do USMLE há 8 anos, mas nunca tivemos tantos alunos como em 2022”, explica a líder em global health e CEO da Medical Boards Study Academy, Juliana Soares Linn.
Os números confirmam a crescente presença de médicos estrangeiros atuando nos EUA. O setor de saúde é o que mais tem participação de imigrantes na força de trabalho do país, com 15,6%, segundo dados do Conselho Americano de Imigração.
Alta salarial acompanha crescimento de contratações
A alta demanda tem repercutido também na remuneração dos médicos que atuam nos Estados Unidos. Desde 2015, o salário dos profissionais da atenção primária aumentou 33%, enquanto o dos especialistas aumentou 30%, segundo dados do Medscape.
Na pesquisa, realizada a partir da distribuição de médicos na base de dados da Associação Médica Americana, 13.064 médicos que atuam em mais de 29 especialidades foram ouvidos. Nos 11 anos em que o relatório foi publicado, essa foi a primeira vez que todas as especialidades tiveram um aumento na renda.
A pesquisa aponta também que a remuneração dos médicos aumentou ainda mais no início de 2022, em comparação com os anos anteriores, 2021 e 2020. Os especialistas ganharam em média US$ 368.000 em comparação com US$ 344.000 em 2021 e US$ 346.000 em 2020. Já os médicos da atenção básica ganharam US$ 260.000 no início de 2022, em comparação com US$ 242.000 em 2021 e US$ 243.000 em 2020.
No último ano todas as especialidades tiveram um aumento na renda. Os maiores salários são de cirurgiões plásticos (US$ 576.000), ortopedistas (US$ 557.000) e cardiologistas (US$ 490.000). Já as menores remunerações ficam com os especialistas em medicina preventiva (US$ 243.000), pediatras (US$ 244.000) e médicos da família (US$ 255.000).
A diferença salarial pode chegar a mais de US$ 333 mil anuais, o que acontece porque algumas áreas são mais procuradas que outras. Além disso, determinadas especialidades têm mais escassez de mão de obra.
Outro ponto relevante a observar é o sistema de bonificação que complementa a renda dos profissionais. Geralmente os bônus são concedidos por bom desempenho e como forma de atrair para regiões com insuficiência de determinadas especialidades. Cerca de 57% dos médicos entrevistados na pesquisa receberam bônus de incentivo. Ortopedistas e oftalmologistas estão entre os que ganham os maiores incentivos: $126 mil e $100 mil, respectivamente.