Padovani vota contra reforma tributária e forma trio ‘Desafinados do Paraná
Durante a campanha, o então candidato a deputado federal pelo Paraná, Nelson Padovani (União), defendeu um Estado mais enxuto, portanto, menos gastador e focado em áreas estratégicas. Pautava a reforma tributária como fundamental para avanços em setores como transporte e logística, necessários para conectar o país, especialmente o interior, e criar as condições para horizontalizar a industrialização. Na Câmara, mantém-se fiel ao ideário que o colocou em Brasília com uma votação bem abaixo do que esperava. Corria para alcançar 100 mil votos, mas cruzou a linha de chegada em último entre os 30 deputados pelo Paraná, com pouco mais de 57 mil votos.
Conservador, católico e admirador do Bolsonaro e das pautas defendidas pelo ex-presidente, formou o trio de parlamentares federais do Paraná que cravou voto contra a reforma tributária. Empresário bem sucedido, com âncora em Cascavel, Nelsinho adotou postura essencialmente ideológica nesta pauta, sem disposição para avaliar a necessidade de avanços aguardados há 30 anos. Viu digitais do PT no projeto onde elas não estavam e logo cravou posts nas redes sociais valorizando seu ‘não’. Acabou sozinho, ou melhor, no trio de parlamentares que desafinou. Vale lembrar que Padovani integrava grupo de trabalho da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que ancorou a reforma.
O ‘não’ expresso com tanto ardor foi na contramão das entidades representativas do agronegócio, setor com o qual o deputado dialoga e onde cabalou votos importantes para sua vitória. Pior: nos debates que antecederam a votação, o deputado se acanhou ao não trazer a público os pontos com os quais divergia na proposta da reforma, preferindo expressar argumentações frágeis após o ato consumado. Aliás, emprestou movediças explicações de outros parlamentares, sem construir sua própria narrativa. Padovani tem muito mais lastro técnico que seus cumplíces do ‘não’. Filipe Barros e Fahur estão muito longe do setor produtivo, raiz do parlamentar do oeste do Paraná, onde construiu sólida base empresarial em setores como revenda de máquinas agrícolas, agronegócio, loteamentos e geração de energia.
Padovani, portanto, sabe que o cipoal tributário é um dos muitos anabolizantes que enrijece os músculos do ‘custo brasil’, tantas vezes apontado por ele durante a campanha como um dos obstáculos ao desenvolvimento. Nesse contexto, esperava-se dele postura mais lúcida, pacificada no entendimento da importância da aprovação da reforma tributária, em defesa da qual caminharam as mais importantes entidades representativas da economia nacional. Nada contra o ‘não’, aceitável e democrático, mas o parlamentar perdeu a oportunidade de ser didática na construção de sua oposição ao projeto e, assim, contribuir para o debate de eventuais aspectos contraditórios da reforma. Preferiu, no entanto, ser contra, acanhando-se numa estatura que poderia ser bem maior do que é. Mas Padovani ainda tem tempo de se recompor.