1% dos brasileiros são ateus.
“Se você não acreditar em Deus, você tem o demônio no corpo.” Assim o ator Gregorio Duvivier, 30, descreve a reação de boa parte da população religiosa brasileira diante de alguém que se declara ateu. O ator revela que nunca teve uma formação religiosa e, por isso, não enfrentou problemas em sua relação com amigos e familiares por ser alguém que questiona a existência de Deus.
Mas o próprio Gregorio faz coro a uma reclamação da maioria dos ateus no país: a de que, em geral, a sociedade brasileira tem dificuldades em entender e aceitar aqueles que não professam nenhuma fé religiosa. “O Brasil é um país difícil para os ateus porque nós somos uma minoria realmente pequena”, avalia o ator. “É um país onde todas as pessoas têm não só uma religião, mas várias, e onde acreditar em qualquer coisa parece mais sensato do que não acreditar em nada.”
Um dos criadores do grupo Porta dos Fundos, que já abordou diversas vezes a religião em seus vídeos na internet, Gregorio diz que é natural fazer humor com temas tabus e que o riso deveria ser uma arma contra o fanatismo. “Os cristãos têm bancada no Congresso e estão mais bem representados do que qualquer um”, afirma. “Por isso, não vejo problema nenhum em rir deles, até porque você está rindo, em geral, dos fanáticos, dos falsos profetas.”
Segundo pesquisa Datafolha realizada em dezembro de 2016, 1% dos brasileiros são ateus. O levantamento ouviu 2.828 maiores de 16 anos em 174 municípios e tem nível de confiança de 95%.
A dificuldade de aceitação de ateus pelos religiosos fez crescer nos últimos tempos o uso de uma expressão popularizada pelo movimento LGBT: o “sair do armário”. Tradicionalmente associada à decisão de uma pessoa de assumir em público a sua orientação sexual, a expressão também passou a ser usada pelos ateus que resolvem tornar pública a sua postura em relação à religião.
“É uma metáfora boa. São pessoas que têm um entendimento de si que, em um certo momento da vida, resolvem tornar público, seja orientação sexual ou de ordem religiosa”, afirma Rafael Quintanilha, pesquisador do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), que atualmente faz um mestrado na USP sobre os discursos ateístas no Brasil.
“A expressão é feliz também porque o movimento LGBT tem se mostrado um grande aliado do movimento ateísta nas suas reivindicações públicas”, acrescenta. “Normalmente são agentes religiosos dentro da política que impõem certas propostas que restringem os direitos LGBT e, ao mesmo tempo, restringem a noção de Estado laico dos ateístas.”
fonte:Uol