Viva a revolução agricultura familiar
O modo de fazer política do governador Carlos Massa Ratinho Júnior se assemelha muito ao do Bolsonaro. Sem proferir as sandices e abjeções do presidente, Massa segue o receituário pouco inteligente do ultraliberalismo e decide, assim como o seu colega federal, transpassar um feixe de varas de aço entre os raios da roda da economia. Desde que tomou posse, Massa já promoveu seis despejos contra trabalhadores rurais e indígenas. O último foi na quinta-feira (19), quando 56 famílias, cerca de 160 pessoas da comunidade José Rodrigues, no município de Laranjal, região central do estado foram desterradas para dar lugar à improdutividade. A comunidade será arrastada para o centro urbano, onde não há como assentar com dignidade essas famílias. O efeito será a ocupação desordenada, o aumento da pressão sobre o solo e o consumo dos serviços públicos, como o de água e o de energia elétrica. Isso sem falar no desemprego e no subemprego.
De toda forma, a medida revela alguns aspectos de Júnior, além da pusilanimidade. De um lado, temos um governador que não respeita acordos, como o estabelecido com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), poucos dias antes da ação de despejo. Ratinho, diante dos demandantes, assumiu o compromisso de rever as ações de despejo, criar a Vara da Justiça para Mediações de Conflitos Agrários e fazer funcionar a Comissão Estadual de Mediação de Conflitos Fundiários. Como não cumpriu a primeira parte, é de se esperar que as demais, também, não sejam cumpridas pelo governador, uma vez que não é a primeira vez que ele demonstra para quem governa. Ao invés de defender a terra para quem nela trabalha e a faz produzir frutos, Massa deixa a terra voltar para as mãos de quem a deixou ociosa e improdutiva, esperando ganhar na especulação imobiliária. Em nome do rentismo, Ratinho mata o futuro. Os mais de 50 estudantes do acampamento, agora, estão sob a incerteza de continuidade dos estudos. A elite pretende recriar, como nos tempos de Fernando Henrique Cardoso, um gigantesco exército de mão de obra de custo miserável, enquanto ela se refestela em condomínios fechados e shoppings
O mais pernicioso da inação do governador é a sua contribuição para criar uma crise econômica para Laranjal. Nem mesmo ouvindo os apelos do prefeito e de deputados estaduais saiu em defesa do desenvolvimento do município e de sua gente. Devido ao seu distanciamento, de berço, da realidade paranaense, é natural que Júnior não perceba, mas é estarrecedor que o estado não lhe tenha fornecido um assessor para informar que, municípios mais ou menos do tamanho de Laranjal, com cerca de oito mil habitantes, são extremamente dependentes de duas coisas: do Fundo de Participação dos Municípios e do que produz a maior revolução brasileira, os acampamentos e assentamentos dos trabalhadores rurais sem terra. Segundo uma pesquisa da prefeitura, a produção do acampamento é impressionante. Leite, carne de boi, aves e de porco, milho e feijão contribuíram com cerca de R$ 1,8 milhão para a formação do PIB municipal.
Tudo isso deixará de ser produzido porque o governador entendeu que a terra improdutiva é melhor para alguns paranaenses. A partir de agora, arrancado do seu meio de produção e habitando a periferia de uma pequena cidade, a renda média, de R$ 1.300, auferida pelos trabalhadores rurais, deverá oscilar entre R$ 300 e R$ 980. E a precarização das condições de trabalho e de moradia é líquida e certa. Caso faltasse mais alguma coisa para revelar o governador Ratinho e para quem ele governa, a sociedade está sobejamente informada sobre o caráter desse governo. Porém, pior que a ignorância, é a consciência sem a ação e a reação. Por esse e por outros atos, o governador deve ser confrontado nas ruas e os paranaenses têm a obrigação moral e estratégica de apoiar a luta dos trabalhadores rurais. Moral porque é indecente deixar uma terra parada, enquanto há tanto braço em busca de trabalho e que sabe fazer a terra produzir. E, estratégico, porque a agricultura familiar produz o que está na mesa de todos os brasileiros. Simples assim.
*Enio Verri é economista e professor licenciado do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e está deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores do estado do Paraná.