Aumento de número de surdos abre espaço a mercado promissor para intérpretes
Foi depois de ajudar pessoas surdas a resolverem situações triviais do dia a dia que Vitor Fernandes Souza Gil, de 21 anos, decidiu se profissionalizar como intérprete de libras. “No colégio em que eu estudava havia um surdo, o que me fez refletir que eu poderia me adaptar à forma dele se comunicar. Em outra situação, auxiliei um surdo a resolver um problema em uma loja”, conta. Gil se formou como intérprete este ano. Para ele, o ensino de Libras no Brasil tem ganhado cada vez mais importância, pois já se tornou matéria obrigatória para cursos de licenciatura, com o intuito de capacitar os futuros profissionais a atenderem pessoas surdas. “Além disso, promove um vasto conhecimento sobre a cultura surda, permite a troca de conhecimentos e a resolução de dificuldades como a comunicação entre surdo e pessoa ouvinte”, explica.
Gil faz parte de um mercado que apresenta uma grande tendência de aumento, já que diante da maior expectativa de vida e do consequente envelhecimento da população, a estimativa é que o número de surdos continue crescendo, pois a condição se agrava com o passar dos anos. Mais de 10 milhões de pessoas no país têm deficiência auditiva e, desse total, 2,3 milhões apresentam perda auditiva severa. Os dados são de uma pesquisa divulgada em 2019 pelo Instituto Locomotiva, que mostra ainda que a maioria das pessoas acometidas tem 60 anos ou mais, e a maior parte adquiriu a deficiência ao longo da vida. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), até 2050 haverá pelo menos 1 bilhão de surdos em todo o mundo.
Essas pessoas encontram na Língua Brasileira de Sinais sua forma de se expressar e de fazer parte do mundo, e à medida em que a participação dos surdos na sociedade é ampliada, aumenta a necessidade de oferecer condições de inclusão, bem como a demanda por profissionais intérpretes. A lei federal que reconhece a Língua Brasileira de Sinais como língua oficial das comunidades surdas brasileiras foi homologada em 2002 e prevê a garantia do atendimento e tratamento adequado às pessoas surdas. Já em 2010, foi regulamentada a lei sobre a profissão de tradutor e intérprete da Língua Brasileira de Sinais. Além disso, a certificação em Libras integra a política de inclusão do governo federal.
Por conta das lives que aumentaram durante a pandemia de coronavírus, os intérpretes de Libras ganharam mais visibilidade, mas é preciso avançar. Para Gil, é fundamental que as pessoas tenham cada vez mais acesso à linguagem de sinais, para ampliar a acessibilidade. “Um profissional, por exemplo, que entende Libras ou conta com o auxílio de um intérprete, consegue acolher e atender melhor uma pessoa com deficiência auditiva. A vida do surdo fica muito mais fácil. Por isso, democratizar o ensino e o acesso a Libras é importante”, destaca.
Enxergar a articulação das palavras na boca de quem fala para conseguir compreender e interpretar é fundamental para os surdos e deficientes auditivos. É o que relata a pedagoga e professora Glaucia Aparecida Santos Ferreira, 44, que diz que as pessoas precisam entender que quem é surdo “escuta com os olhos”. Ela descobriu que era parcialmente surda na adolescência e não pôde dar continuidade a um acompanhamento médico para reverter o quadro. Com perda auditiva de 98% no ouvido direito e de cerca de 10% no esquerdo, Glaucia conversa por meio da fala, mas se formou em Libras e conta que o estudo contribuiu com sua comunicação, pois faz com que as pessoas prestem mais atenção nela. “A libras é a segunda língua brasileira e precisa ser aprendida pela população, ensinada nas escolas de ensino comum desde a educação infantil e de forma gratuita. Assim, poderemos falar verdadeiramente em inclusão social, que não existe sem comunicação”, diz.
Ela relata ainda que a presença do intérprete é a única maneira de comunicação do surdo com a sociedade, porém, a inclusão ainda é deficitária. “O trabalho dos intérpretes dá possibilidade para que uma variedade de informações seja acessível aos surdos”, justifica.
Maior evento online de letras libras do Brasil está sendo realizado nesta semana em Maringá
SELLE teve início na segunda-feira (28) e conta com a participação de mais de 300 pessoas
Com o objetivo de fomentar as discussões sobre o ensino de libras e a atuação dos intérpretes, está sendo realizado em Maringá o Seminário de Letras Libras (SELLE), que chega à sexta edição e pela primeira vez será realizado em formato online. Com o tema “A Libras além das LIVES”, o evento, que até então tinha duração de dois dias, se estenderá por uma semana, até sexta-feira (02 de outubro) e conta com a participação de mais de 300 pessoas de todo o País. O evento é realizado pela Faculdade Eficaz, com apoio da Federação Brasileira das Associações dos Profissionais Tradutores e Intérpretes e Guia-Intérpretes de Língua de Sinais (Febrapils), Educa Inova, Instituto Iddeti, Alfa Libras e Stagium.
O evento contará com palestras e oficinas de doutores e mestres em Libras de diversas regiões do Brasil, que abordarão os avanços do ensino de Libras e o reconhecimento da formação profissional e atuação dos tradutores e intérpretes. Haverá ainda um show de stand-up comedy, apresentado em Libras, e uma mesa redonda com a temática do papel do intérprete de Libras, o mercado de trabalho e o ensino de Libras no Brasil.
Um dos convidados é o professor Fernando de Carvalho Parente Junior, presidente da Febrapils, que falará sobre o papel do intérprete. “É de fundamental importância a realização de eventos que promovam o ensino de libras, com o intuito de aumentar a acessibilidade, inclusão, e reforçar o papel social das pessoas com deficiência auditiva”, diz a professora e coordenadora de Ensino Superior da faculdade Eficaz, Silvia Christiane Goya.
Segundo Silvia apesar da crescente valorização da Libras na sociedade, com a inclusão de pessoas surdas no mercado de trabalho, ainda faltam profissionais para atender a demanda de serviços que necessitam do intérprete. “Um dos aspectos mais relevantes quando pensamos em acessibilidade é de que o atendimento deve incluir todos. As empresas e órgãos públicos devem ser capazes de prestar um atendimento ao público em geral e, neste caso, um intérprete é necessário para possibilitar a comunicação”, completa.
Formação
Com a oferta de cursos para primeira e segunda graduação, pós-graduação e técnico em diferentes modalidades em Libras desde 2011, a Faculdade Eficaz foi pioneira no ensino de Libras no Paraná. Na faculdade, são ofertados cursos para formação de tradutores, intérpretes, professores do ensino de Libras, aperfeiçoamento, desde o ensino técnico, graduação e pós-graduação. “Além do ensino de qualidade, com professores que se destacam na formação em Libras, atendemos as expectativas do mercado de trabalho, direcionando nossos cursos para uma formação que possibilita aos estudantes o contato com a prática”, diz Silvia.