Plano de imunização é adiado
BRASÍLIA (Reuters) – Mesmo pressionado por governadores, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, não cumpriu a promessa de apresentar nesta quarta-feira o plano logístico para a vacinação contra Covid-19 no país, mas, ainda assim, o ministério disse que um imunizante pode ser usado na população ainda neste ano, em caso de aval emergencial da Anvisa e antecipação de entrega das doses.
Em meio ao aumento de casos do novo coronavírus, o que muitos especialistas alegam ser uma segunda onda, a expectativa dos governadores era que o plano nacional fosse apresentado nesta quarta, após a promessa de Pazuello em reunião com eles na véspera.
Contudo, a proposta não foi divulgada nesta quarta. Em audiência pública no Congresso, o secretário de Vigilância em Saúde do ministério, Arnaldo Medeiros, afirmou que o plano deve ser apresentado na próxima semana. Segundo ele, o documento está passando por revisões e atualizações.
Medeiros disse ter sido informado que ocorreu uma “apresentação simbólica” do plano por parte de Pazuello quando o ministro o entregou a um repórter durante entrevista mais cedo nesta quarta.
“Nossa equipe está fazendo a revisão e a gente acredita que na próxima semana esse plano esteja apresentado”, disse ele, em audiência no Congresso.
Em nota nesta quarta, o Ministério da Saúde não se comprometeu com datas para a apresentação do plano de imunização, dizendo apenas que será “em breve, em evento”. Afirmou ainda que Pazuello recebeu o documento nesta quarta, mas ele ainda terá de passar por uma revisão técnica final antes de ser enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF).
O STF vai julgar nos próximos dias ações que questionam o motivo da demora e aspectos do plano desenvolvido pelo governo federal. Governadores pressionam o Executivo para adotar um plano, e alguns deles começam a trabalhar para fazer suas aquisições de imunizante separadamente a um acerto nacional.
“É importante informar que o plano está estruturado, mas pode sofrer alterações à medida em que os ensaios clínicos das diferentes vacinas sejam concluídos, as mesmas sejam registradas na Anvisa, incorporadas ao Sistema Único de Saúde (SUS) e adquiridas”, disse Pazuello, em nota.
“Temos uma equipe extremamente qualificada trabalhando neste material há mais de 3 meses e que seguirá nesta missão enquanto estivermos vacinando a população, observando sempre a curva epidemiológica e a oferta de novos imunizantes. Assim, garantiremos um serviço de excelência aos brasileiros”, completou.
VACINAÇÃO
Mais cedo, em entrevista à CNN Brasil, o ministro disse que “é bem provável” que a vacinação contra a Covid-19 no país comece entre janeiro e fevereiro, caso as candidatas a vacina da Pfizer, da AstraZeneca e da Sinovac, que está sendo testada pelo Instituto Butantan, obtenham registro emergencial da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
“Se esse registro chegar para nós em janeiro, nós já teremos doses da Pfizer, doses da AstraZeneca entregues. Se o Butantan já tiver registro, teremos Butantan também. Os quantitativos dependem da entrega”, disse o ministro à emissora.
Na entrevista, Pazuello chegou a afirmar que, caso a Pfizer obtenha registro emergencial no país e adiante a entrega de doses também em dezembro, a vacinação poderia começar neste mês. Em audiência no Congresso na véspera, entretanto, o presidente da Pfizer no Brasil, Carlos Murillo, disse não ser possível entregar doses da vacina ao Brasil em dezembro.
Posteriormente, a assessoria do ministro disse que há a possibilidade de a vacinação em caráter emergencial começar em dezembro, mas ressaltou que ela precisa antes receber o aval da Anvisa. Há a expectativa de que se os laboratórios se valham de autorizações de uso dos imunizantes em outros países para acelerar a tramitação no momento em que forem fazer a mesma solicitação no Brasil.
O Reino Unido já começou nesta semana a aplicar as primeiras vacinas da Pfizer e a autoridade reguladora do Canadá aprovou a autorização para o mesmo imunizante nesta quarta.
Segundo o Ministério da Saúde, todos os imunizantes em elaboração são passíveis de serem comprados pelo governo, e não haverá problema de vacinação.
Na véspera, durante a reunião com os governadores, Pazuello disse que o ministério vai comprar todas as vacinas que estiverem disponíveis para a campanha de imunização contra a doença, que já matou mais de 178 mil pessoas no Brasil.
Reportagem adicional de Lisandra Paraguassu e Eduardo Simões