Quando dizemos “sim” para tudo, dizemos “não” para nós mesmos
“Sobre ser bondoso demais”
É a oportunidade que todo acomodado precisa pra se beneficiar com algo do outro sem o menor esforço. Normalmente, os acomodados ou mais “folgados” são rasteiros, chegam de mansinho, sem muito alarde, se fazem de simpáticos, pedem com jeito, se mostram menos esclarecidos, e o que é pior, possuem estratégias de convencimento – e sim, são bons em convencer a quem se permite ceder.
Apesar da pobreza de conteúdo que os têm, até porque é comum dessa característica – já que não se esforçam pra adquirir conhecimento de espécie nenhuma, conseguem trazer pra si o que precisa, de “graça”, fruto do esforço alheio.
Eles são astutos, se aproveitam do escape de uma fala, conversas ouvidas sem permissão, da generosidade dos bondosos, do favor recebido, da ajuda concedida, do vitimismo que ele mesmo se coloca pra ganhar mais espaço com o “bonzinho” e continuar sendo beneficiado. Esse veneno é pulverizado nas relações, de forma silenciosa e sutil, e quando menos se espera, já houve sérios prejuízos.
Sendo mais objetivo, essa troca desequilibrada das relações humanas, vemos desde tempos históricos. Não é novidade nenhuma que existe um abismo entre o doar e receber, em qualquer tipo de relacionamento – amoroso, nas amizades, familiar, social ou profissional. E assim segue em todos os ramos da vida – o bondoso e o acomodado.
Ser bondoso pode ser algo positivo, e não há nada de errado nisso, desde que não excedam os limites. Entretanto, como tudo na vida, é preciso ter discernimento para identificar até onde ceder é saudável.
Geralmente, pessoas tidas como boas demais são aquelas que servem a todos ao seu redor e não têm sua dedicação retribuída, vivem apagando fogo alheio, enquanto seu mundo interno morre queimado.
Assim, um relacionamento equilibrado é uma via de mão dupla, e dizer “não” ao outro também é benéfico para ambos, pois, além de aliviar o excesso de carga de um lado, ensina o outro a buscar e aprender a resolver suas próprias questões.
É importante ressaltar, que a bondade não deve ser motivada pelo desejo de retribuição, pela troca, porém, como já mencionado, as relações humanas precisam de equilíbrio.
Não existe um manual com orientações de como são as atitudes que determinam que alguém é bonzinho demais. Cabe a cada indivíduo refletir se a sua bondade está trazendo mais prejuízos do que benefícios. Por mais que relacionamentos às vezes, necessitem de doação, tudo precisa estar em sintonia, pois, nenhum excesso é positivo.
Dizer muito “sim” para os pedidos das outras pessoas, pode ser um indício de que anda passando por cima das suas próprias vontades apenas para agradar. Quando dizemos “sim” para tudo, dizemos “não” para nós mesmos. Com o tempo, o bonzinho passará a carregar uma brasa emocional, enquanto o acomodado se reforça no seu mundo vazio.
É importante procurar ajuda profissional ao perceber tais comportamentos, pois, a partir dessa consciência, é possível aprender a nos posicionar de maneira mais equilibrada. A medida que nos é concedida tal consciência, aprendemos a carregar apenas a carga que suportamos. O contrário disso, acarreta uma exaustão mental incalculável, trazendo sofrimento e desgaste na saúde mental. O acomodado? Continua confortável, explorando quem consegue, tendo em mãos tudo que precisa sem precisar sair do lugar.