A polêmica do voto impresso na visão de uma Startup
Por Rodrigo Correia da Silva, fundador da healthtech Suprevida
Quem mora no Brasil e tem acesso à imprensa ou às redes sociais não está alheio à existência do debate sobre o voto impresso, embora, na realidade, a maioria não o tenha como uma de suas prioridades de atenção. Na discussão, uma turma defende que, sem voto impresso, não é possível ter eleições limpas. Acredita que é preciso ter um papelzinho sacramentando que sua voz foi ouvida neste grande coro que define quem serão nossos próximos governantes. Já a outra turma simplesmente está satisfeita com a maneira atual de votação, que registra nossas preferências políticas desde os anos 90.
Trocadilho inevitável: sem tomar partido, vale mencionar que, antes da votação exclusivamente eletrônica, padecíamos de controle do voto exercido pela força ou pelo suborno viabilizado justamente pelo comprovante do que foi para a urna. Do outro lado, temos tido alternância de poder que pode decorrer tanto da segurança das eleições quanto da falta de vontade ou capacidade de surrupiar cargos eletivos pelos detentores do poder em cada eleição.
Este é o cenário que está esquentando debates e até gerando declarações um tanto quanto perigosas, que geram reações tensas em um ambiente de polarização beligerante, assustador. Então vale uma reflexão analítica e mais leve sobre o tema. Como uma Startup cria soluções? E como isso pode ajudar no debate?
Via de regra, que – como todas – possui exceções, temos dois tipos de Startups: as que partem de uma tecnologia ou capacidade técnica em busca de um problema para solucionar e as que já partem de um problema, entendem quais são as suas causas e consequências, e vão em busca de soluções tecnológicas para resolvê-lo. Aqui, vamos fazer uma análise a partir do segundo tipo.
No nosso mundo, chamamos “problema” de “dor”, então, voltando ao ponto central do debate, nos cabe aferir qual é a dor que está atormentando aqueles que propõem o voto impresso e, especialmente, a dor da quantidade não menosprezável de apoiadores do “rollback”, desta reversão para o voto impresso. Feito isso, descobrimos que é insegurança pela ausência de auditoria do que foi registrado na urna. É preciso uma comprovação do que foi contabilizado conforme sua vontade.
A solução proposta é a impressão de milhões de votos em milhões de locais – o que parece mais a criação de um problema do que solução, pois o risco continua o mesmo dada a possibilidade de imprimir uma coisa e registrar outra, acrescentando desafios técnicos, custos e facilitando o “voto de cabresto”. O que fazer então? Impor essa dor a uma parcela da população e pronto?
Aplicando a metodologia de análise da dor e proposta de solução escalável típica das Startups, vejo uma possibilidade bem mais simples e pacificadora. Atualmente, já temos sistemas no Brasil em que inserimos informações, podemos acessá-las e – pasmem – até imprimir se tivermos esse desejo! Tudo conectado ao nosso CPF, título de eleitor, etc. É o sistema da Receita Federal para o Imposto de Renda. Isso, claro, sem falar dos bancos, entre outras instituições.
Sendo assim, a proposta é: criar um acesso seguro nos moldes da Receita Federal para que as pessoas vejam em retrospectiva seus votos e, se quiserem, imprimam a seu próprio custo, conveniência e finalidade. Pronto! Simples demais? Está bem, então vamos voltar ao debate da forma como estava antes que, aparentemente, é muito mais animado nestes dias frios.