O que podemos esperar da COP26?
A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2021, também conhecida como COP26, acontece até o dia 12 de novembro em Glasgow, na Escócia
por Ricardo Young
Novembro de 2021 – Quando a presidente da COP-25, a chilena Patrícia Schmidt, passou a coordenação dos trabalhos para o presidente da COP-26, o inglês Alok Sharma, na abertura dos trabalhos da COP-26, neste domingo, nem parecia que dois anos haviam se passado entre Madrid e Glasgow, não fosse o minuto de silêncio e as sentidas condolências expressas em solidariedade aos milhões de mortos na pandemia.
O clima era de retomada e Patrícia lembrou que apesar do interregno, muitas coisas foram feitas nestes dois anos, a começar pela criação da Aliança da Ambição Climática para a Neutralização do Carbono, passando pela inclusão dos oceanos nos debates, pela inegociabilidade da ciência como imperativo e balizador das discussões, pela importância dos governos subnacionais, pelo engajamento do setor financeiro na jornada pela redução das emissões e outras conquistas.
Alok, por sua vez, mencionou com entusiasmo a adesão de quase 80% do setor privado internacional ao objetivo de se zerar as emissões até 2050, mas foi sombrio sobre o gigantesco desafio a que a COP-26 se propõe: estabelecer e regular os mecanismos necessários para que a economia global possa efetivamente aplicar as NDCs (National Determined Contribution) como principal métrica de engajamento e compromisso com o bordão das “responsabilidades comuns, porém diferenciadas” de cada nação. De fato, o desafio não é pequeno, desde Paris em 2015, as reduções foram muito tímidas e considera-se que neste ritmo não só a meta de redução da temperatura global em 1,5ºC até 2050 não ocorrerá, como corre-se o risco de se ultrapassar em muito o de 2ºC.
As conclusões do relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) de agosto de 2020 não só colocaram evidências irrefutáveis do efeito antrópico do aquecimento global, como o até então improvável cenário de extinção da vida no planeta adquiriu sólidas evidências científicas. Portanto, a COP de Glasgow se realiza sob o bordão da Ambição, indo-se além das NDCs previamente acertadas; Finanças, assegurando-se recursos maiores que os acordados U$ 100 bilhões de ajuda internacional e a necessidade de regulamentação do Artigo 6 do Acordo de Paris, objetivando-se a universalização do mercado de carbono e; Regulamentação dos mecanismos que permitirão a implantação das ferramentas propostas pelo mesmo acordo, seja na sua dimensão regulatória seja na sua dimensão institucional.
Espera-se que o encontro de Glasgow se beneficie da decisão tímida e não vinculante do encontro do G20, encerrado concomitantemente à abertura da Conferência. Embora, tímida, não deixa de ser alvissareira ao apoiar os objetivos de Glasgow e não lhe impor dificuldades adicionais. O G20, em sua declaração final, expressa ação “significativa e efetiva” para limitar o aquecimento global a 1,5°C e reafirma o compromisso de “importância fundamental” de se neutralizar as emissões “até a metade deste século”. O Grupo também reiterou o seu compromisso de assegurar os U$ 100 bilhões de auxílio aos países em desenvolvimento sem, porém, se comprometer com alguma coisa a mais.
Para o Brasil o cenário ainda é bastante confuso. Se por um lado o governo – com uma séria crise reputacional – tentará emplacar o seu programa de “Crescimento Verde” encomendado às pressas, envolvendo dez ministérios com o objetivo de postular recursos internacionais para a preservação da floresta e financiar ações de descarbonização da economia, por outro uma forte representação da sociedade civil e empresariado estará presente com propostas robustas que serão debatidas no Brazil Climate Action Hub. O constrangimento pelo qual o país passa, inclusive por ser o único país do G20 que aumentou a sua emissão de GHG no ano passado, pretende ser relativizado também por uma substantiva presença de governadores membros do Consórcio Brasil Verde, que reúne ao menos 22 governadores dos estados brasileiros.
Seja como for, a sociedade brasileira parece estar em sintonia com o cenário mais ambicioso da COP-26 apresentado no início dos trabalhos pelo seu presidente. No excelente documento produzido pelo Instituto Talanoa e pelo Centro Clima, apoiado pelo iCS (Instituto Clima e Sociedade) após extenso debate com lideranças de diversos setores da sociedade – “Clima e Desenvolvimento: Visões para o Brasil 2030” – o roteiro para o Brasil está fortemente delineado dentre os mais ambiciosos reforçados pelas lideranças da COP-26 nesta manhã.
Os próximos dias prometem fortes emoções, uma certa apreensão e muita esperança.
Ricardo Young é Conselheiro da Synergia e presidente do Conselho do Instituto Ethos e do IDS – Instituto Desenvolvimento Sustentável.
Sobre a Synergia (https://www.synergiaconsultoria.com.br/)
Fundada em 2005 por Maria Albuquerque, a Synergia é uma consultoria socioambiental que atende os setores público e privado, oferecendo soluções em mediação de conflitos, desenvolvimento social, relações territoriais e gestão de conhecimento. Atua em todo o território nacional, atendendo às demandas dos segmentos de mineração, siderurgia, indústria petroquímica, gestão pública, agronegócio, agroindústria, saneamento, energia e gestão hídrica.
Maria Albuquerque é doutora em Estruturas Ambientais Urbanas pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (FAU-USP), mestre em Sociologia do Trabalho pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e licenciada em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia do Recife (FAFIRE).
A consultoria possui o certificado internacional de qualidade ISO:9001, conquistado em 2013, graças à sua capacidade de planejamento, elaboração e execução de programas sociais, urbanos e ambientais. Já atuou em mais de 127 projetos no Brasil e em Moçambique, envolvendo mais de 1.2 milhões de pessoas.