Mulheres no turismo
Dados do Fórum Econômico Mundial mostram que serão necessários mais de 268 anos para que a disparidade de gênero seja completamente erradicada. O mesmo estudo mostra que as taxas de demissões foram mais altas entre mulheres durante a pandemia. Na contramão desta realidade, na hora de recontratação, à medida que a economia se recupera, elas são menos contratadas do que os homens.
Ainda que os dados sejam globais e atinjam todos os setores econômicos, estudos nacionais como o da Professora e Pesquisadora da USP, Mariana Aldrigui, que também é conselheira da WTM Latin America, mostram a mesma realidade na indústria do turismo no Brasil. “Há quase 100 anos falamos sobre o turismo como uma potência econômica no Brasil e, ainda que tenhamos vivido uma explosão cursos e a consequente qualificação na década de 90, foi em 2014 que vivemos o melhor ano da história do setor” diz, complementando que “a expectativa era grande em 2019 e esperávamos um 2020 com muitas oportunidades e resultados, quando entramos em pandemia”.
O fato é que o estudo liderado por Mariana Aldrigui aponta que a maioria dos países que depende do turismo para preservar seus empregos, ficou em uma situação muito delicada. “No Brasil, ainda temos 40 mil vagas formais para serem recriadas a ponto de chegarmos aos patamares de 2019. E sabemos que a maioria dessas vagas serão priorizadas para homens, parte por demanda das empresas, parte por definição das próprias famílias”, diz.
Por todos os seus desafios e pela necessidade de revisão imediata, o tema vem ganhando relevância e entrando na pauta de empresas e eventos ligados à indústria, entre os quais estão a LACTE, promovido pela ALAGEV – Associação Latino-Americana de Gestão de Viagens e Eventos Corporativos em sua 17ª edição (dias 8 e 9 de março, em São Paulo), e a WTM Latin America, em sua oitava edição presencial (entre 5 e 7 de abril, em São Paulo).
“Nós precisamos e vamos pensar, criar e construir o novo pela perspectiva da sustentabilidade, da equidade e da inclusão, apoiando a reconstrução da nossa indústria”, diz Giovana Jannuzzelli, diretora-executiva da ALAGEV.
Para além dos desafios já citados, a participação efetiva de mulheres em posições de liderança é uma realidade em empresas brasileiras ou que atuam no Brasil. São os casos, por exemplo da United Airlines, da Schultz e do Plaza Premium Group.
“Nossa capacidade de ver o mundo por outros e mais ângulos é um grande diferencial quando trabalhamos numa indústria focada na hospitalidade e na experiência, como é o caso do turismo”, diz Ana Santana, diretora-geral da Schultz. A percepção da executiva é compartilhada por Alicia Perez, Sales Manager no Plaza Premium Group. “É muito cruel falar que a mulher não pode ou não deve trabalhar com suas emoções. Nós somos demandadas a ocupar espaços com muita firmeza e eu acredito que podemos manter nosso lado intuitivo e de acolhimento”, diz Alicia.
A presença de mulheres em cargos executivos é uma realidade no Plaza Premium Group, pioneiro e líder mundial em prestadores de serviços globais de hospitalidade aeroportuária e que atua no Brasil há cinco anos, desde quando Pamela Stein assumiu a posição de gerente-geral e vem se “movendo” de acordo com o crescimento da empresa. “A mobilidade fez parte da minha carreira em várias empresas e o Plaza Premium Group me ofereceu o desafio de implantar a operação de São Paulo, deixando nosso grupo preparado para voos ainda maiores na América Latina. Neste período, me mudei de cidade com minha família porque era a exigência da minha carreira, o que é mais comum de ser observado em homens do que em mulheres. Tenho orgulho desta trajetória e, na mesma medida, tenho certeza de que minha rede de apoio é fundamental”, diz a executiva.
Outra história que inspira e incentiva é a de Jacqueline Conrado, Country Manager da United Airlines no Brasil. Ela diz que que “todo mundo merece oportunidades e transformar o ambiente corporativo é muito importante para diminuirmos as diferenças. Neste sentido, a liderança é um caminho efetivo para ajudar a eliminar barreiras desnecessárias para mulheres que estão chegando e facilitar e criar oportunidades para quem já está no mercado. Mais do que isso, é uma responsabilidade. É uma jornada para sempre e eu fico feliz em dizer que na United nós temos um terreno muito fértil para isso. Tenho orgulho em dizer que criamos, a partir do nosso País, o primeiro Comitê Internacional de Diversidade & Inclusão da companhia”, finaliza.
Diversidade & Inclusão também é pilar estratégico na WTM Latin America 2022 e ganhará, ao lado das temáticas de Turismo Responsável e Tecnologia, um auditório próprio, com sessões e debates que reunirão nomes que são referência. “Este é um tema que integra nossa agenda há algum tempo e que ganhou ainda mais relevância nos últimos dois anos, nos deixando inquietos diante da necessidade de contribuir, de forma organizada e efetiva, trazendo reflexão, debate e cases para nossa indústria”, diz Thais Del Ben, gerente de Marketing da WTM Latin America.