Dois anos da pandemia da COVID-19
Hoje faz dois anos que a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou o início da pandemia da COVID-19, data que mudou todas as relações sociais, econômicas e políticas em todo o mundo.
Não. Esta não é uma data comemorativa porque ninguém comemora uma pandemia que destrói o mundo de diferentes maneiras. Mas é possível ressignificar a data e promover, a partir dela, uma importante reflexão: afinal de contas, dois anos depois, qual o impacto do que vivemos, como estamos e para onde vamos?
Entre as inúmeras indústrias, o turismo, que movimenta mais de 50 segmentos econômicos (aviação, hotelaria, agências de viagem e operadoras, empresas de seguro, de locação de veículos, de alimentos, de bebidas, para citar algumas), foi, sem dúvida alguma, uma das primeiras a sofrer os impactos de 2020, a começar pelo fechamento do espaço aéreo de vários destinos.
Como consequência, além da imediata preocupação com a saúde pública e com a implementação de medidas de segurança sanitária, acompanhamos a perda de centenas de milhares de empregos, de geração de divisas para municípios, estados e países, e o fechamento de pequenas, médias e grandes empresas.
Hoje, passados dois anos, de acordo com recente pesquisa World Travel and Tourism Council (WTTC), o turismo deve ser responsável por movimentar US$ 233 bilhões na América Latina, um crescimento de mais de 48% na geração de riqueza, se comparado a 2020. O índice já é considerado o maior desde 2019, na pré-pandemia, quando o faturamento de empresas ligadas ao turismo alcançou US$ 267 bilhões na região, chegando a ser responsável por 8,1% do PIB, contribuição que caiu 41,1% em 2020.
Além da geração de riqueza, a expectativa é que os empregos também sejam recuperados na medida em que as restrições sejam diminuídas e que os programas de vacinação avancem. “Nos últimos anos, o setor de Viagens e Turismo na América Latina foi seriamente afetado. No entanto, nossa pesquisa mais recente mostra que 2022 pode trazer uma forte recuperação para o setor e a economia mundial”, diz Julia Simpson, presidente e CEO do WTTC.
No Brasil
“Na pré-pandemia, nós esperávamos um 2020 com muitas oportunidades e resultados no Brasil”, diz a professora e pesquisadora da USP, Mariana Aldrigui, que também é conselheira da WTM Latin America e responsável por uma série de estudos sobre o mercado nacional. “Ainda temos 40 mil vagas formais para serem recriadas a ponto de chegarmos aos patamares de 2019”, diz.
Em algumas empresas a manutenção do emprego foi uma das prioridades nestes dois anos. É o que aconteceu com o Plaza Premium Group, com a Atrio Hotel Management e com a Schultz, por exemplo.
“De um lado, nós trabalhamos com o objetivo de salvaguardar o maior número possível de postos de trabalho. De outro, reunimos este time que atuou de forma conjunta para inovar, estudar o mercado, antever demandas e, inclusive, lançar novos produtos e serviços”, diz Aroldo Schultz, presidente da empresa criada há 35 anos e que leva seu nome. Entre os novos produtos e serviços citados pelo executivo estão a ampliação de seu portfólio de destinos nacionais, com o tour rodoviário Alagoas Imperdível, e o lançamento de novos produtos para atendimento médico e seguros viagem, pela VitalCard, com coberturas para COVID-19.
Investir na contratação e na promoção de pessoas também foi uma das estratégias da Atrio Hotel Management, comandanda por Beto Caputo e que conta com Paulo Mélega e César Nunes nas vice-presidências de Operações e Vendas & Marketing, respectivamente. Aliás, as posições ocupadas pelos VPs hoje são resultado de um processo de reestruturação da empresa e que previu, além da contratação em diversas áreas, a mobilidade com a promoção destes dois altos cargos executivos – de diretores, Mélega e Nunes ascenderam para a vice-presidência da companhia que, em 2021, iniciou sua operação em dois novos negócios, a partir das start-ups Xtay e Livá Hotéis. “Em termos de crescimento, nós tivemos os dois melhores anos da companhia porque não paramos. Pelo contrário, aumentamos muito nosso investimento em tecnologia, inovação e em pessoas”, diz Caputo.
Manter posições estratégias também foi o caminho seguido pelo Plaza Premium Group no Brasil. “Além dos investimentos em infraestrutura, nós fizemos questão de manter toda nossa equipe de média e alta gestão, de modo a garantir, a partir dos inúmeros treinamentos, a padronização mundial em termos de qualidade e atualizar nosso time com todos os protocolos necessários para atender este novo momento de mundo”, diz Pamela Stein, gerente-geral do Plaza Premium Group no Brasil. Complementarmente, a executiva reforça além de ser o único Grupo a operar com lougnes em operação no RIOGaleão, a empresa manteve seus investimentos e sua estratégia de iniciar as atividades em São Paulo. “Em menos de um ano, iniciamos as negociações, assinamos contrato e deixamos um lounge totalmente operacional”, diz, referindo-se ao Plaza Premium Lounge localizado na área interna do embarque doméstico, no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos – hoje, além deste lounge, o PPG tem uma segunda operação, na área pública do mesmo terminal.
Público ávido pela retomada
A famosa “retomada” vem ocupando a pauta de executivos de iniciativas públicas e privadas em todo o País. E também dos viajantes.
Neste sentido, além dos dados econômicos, a decisão de várias capitais brasileiras, incluindo São Paulo, de retirar a obrigatoriedade da máscara ao ar livre chega como um divisor de águas.
“Nós sabemos que a pandemia não acabou e que vamos precisar viver com seus protocolos por muito tempo. Mas nós precisamos procurar e oferecer caminhos que tragam confiança e respondam aos anseios do turista. Para além dos números, tão necessários para a sustentabilidade econômica e social do nosso setor, o turismo é relacionamento, é conexão humana”, diz Simon Mayle, diretor da WTM Latin America, que será realizada entre 5 e 7 de abril no Expo Center Norte, em São Paulo. O executivo complementa que “ainda sobre relevância e anseios, bem como sobre os aprendizados, há muito tempo temos abordado, em nosso pavilhão, temas que integram a pauta dos viajantes e para os quais o mercado vem se preparando ao longo dos últimos anos”.
E é para o viajante de lazer, mais especificamente para a viajante mulher, que a turismóloga Gilsimara Caresia direciona seu olhar: os anseios, desafios e necessidades de mulheres viajantes integram a pauta do Terceiro Encontro de Mulheres Viajantes, evento que deve reunir 400 mulheres nos dias 19 e 20 de março no Tênis Clube Paulista, em São Paulo.
Gil, que é idealizadora e organizadora do evento, faz um reflexão e apresenta três diferentes de perfis de mulheres viajantes na atualidade. “De um lado, a pandemia fez com que muitas mulheres, naturalmente, ficase mais sozinhas, o que lhe trouxe mais confiança e autonomia na decisão de viagens. De outro, em cada pequena iniciativa, a gente observa a alegria das pessoas em rever pessoas. Ou seja, as mulheres estão sentindo falta de voltar a socializar e a viagem é, sem dúvida, uma grande oportunidade. Por fim, temos obervado uma certa dificuldade – econômica e de agenda – para viajar em conjunto, o que se explica porque muitas mulheres tiveram suas férias antecipadas ou foram demitidas e passaram a empreender”, diz.
Os hotéis que são ocupados prioritariamente por hóspedes de negócios também precisaram oferecer novas soluções para este público. “A pandemia nos ensinou a cuidar das pessoas e da importância dos protocolos de higiene. Mas a grande lição foi no campo da reinvenção, de criar formas alternativas de manter os negócios funcionando. Os eventos online e híbridos se fortaleceram e devem continuar”, diz Fernando Kanbara, gerente-geral do hotel Grand Mercure Curitiba Rayon. Localizado no coração da capital paranaense e com acesso a vários pontos turísticos da cidade e da região, o hotel também está atento ao turismo de lazer. “Vimos que, apesar de todas as dificuldades, as pessoas não deixaram de viajar, de ter seus momentos de lazer, seja conhecendo a própria cidade ou destinos regionais”, complementa o executivo.