Paraná é o 3º em casos de feminicídio no Brasil, aponta estudo
O Paraná figura na preocupante terceira posição no ranking de feminicídios absolutos em todo o Brasil, de acordo com dados contabilizados nos primeiros seis meses de 2023 pelo relatório do Monitor de Feminicídios no Brasil, desenvolvido pelo Laboratório de Estudos de Feminicídio (Lesfem) da Universidade Estadual de Londrina (UEL).
Segundo o relatório, que analisou casos de feminicídio com base em notícias veiculadas na imprensa profissional brasileira, o Paraná registrou 62 casos de mulheres assassinadas entre janeiro e junho deste ano. O estado fica atrás apenas de São Paulo, com 122 feminicídios, e Minas Gerais, com 90 casos.
No total, entre 1º de janeiro e 30 de junho de 2023, a imprensa brasileira relatou 862 casos de feminicídios, divididos entre 599 consumados e 263 tentados. A média nacional foi de 3,32 assassinatos de mulheres por dia.
De acordo com o levantamento do Lesfem, maio foi o mês com o maior número de feminicídios no país, e a maioria desses crimes ocorreu em um domingo.
Quanto ao perfil das vítimas, a maioria delas (216) tinha entre 25 e 36 anos, e 196 mulheres eram mães. Isso significa que 276 crianças perderam suas mães, levando em consideração os 154 feminicídios consumados, com uma média de 1,8 filho por vítima. No entanto, em mais de 77% das notícias, não havia informações sobre a existência ou não de filhos da vítima.
Em 72% dos casos de crimes contra mulheres, tanto consumados quanto tentados, o agressor tinha um vínculo de casal ou ex-casal com a vítima. Em 133 casos (15%), o agressor já havia sido denunciado anteriormente. Em cerca de 18% das reportagens, não havia informações sobre a relação entre a mulher e o agressor.
Esse contexto preocupante refletido no levantamento do Lesfem é lamentavelmente comum no Paraná, como destaca o capitão da Polícia Militar do estado e membro da Câmara Técnica da Patrulha Maria da Penha da PMPR, Victor Rodrigo Amaral. Durante sua pesquisa de mestrado, que envolveu vítimas de violência doméstica, Amaral encontrou dados da Secretaria de Segurança Pública do Paraná que indicavam que algumas mulheres em Curitiba e Região Metropolitana chegaram a registrar até 20 boletins de ocorrência desse tipo entre 2017 e 2021.
“Após um ato de agressão, é comum que o agressor tente se reaproximar e demonstre arrependimento. Também é comum que a vítima esteja fragilizada, apresentando algum tipo de dependência emocional ou financeira, e acabe desistindo de prosseguir com o processo”, afirma Amaral.
O relatório do Lesfem também destaca que a maioria esmagadora dos casos (56,4%) ocorreu em residências, principalmente na casa da vítima, seguida por ocorrências em residências compartilhadas entre a vítima e o agressor. Em cerca de 75% dos casos (635 vítimas), o feminicídio foi classificado como íntimo, ocorrendo no contexto de violência doméstica e familiar. Em 142 casos (16,5%), foi noticiada a presença de filhos no local do crime.
O capitão da PMPR enfatiza que os dados dos últimos anuários do Fórum Brasileiro de Segurança Pública reforçam que as mulheres brasileiras estão em maior risco de serem vítimas de violência em seus próprios lares e relacionamentos íntimos, especialmente por parte de parceiros atuais ou ex-parceiros. “Os dados dos atendimentos de ocorrência pela Polícia Militar do Paraná em que a mulher está na condição de vítima também corroboram essa triste realidade.”
No que diz respeito aos métodos usados nos feminicídios, a pesquisa apontou que a arma branca, normalmente um objeto cortante como facas ou punhais, foi o instrumento mais frequentemente utilizado, em 40,2% dos casos. Em seguida, aparecem a arma de fogo (20,5%) e a asfixia (11,4%). Em 43 casos (5%), houve notícia de violência sexual.