Quando a ideologia dá lugar à conveniência, o caminho é pelo Centrão
Passadas as eleições no Paraná, é hora de avaliarmos o posicionamento das legendas e suas cicatrizes. A frente progressista saiu da eleição sem ter defendido absolutamente nada, apostando em alianças inusitadas com candidatos que nunca compartilharam seus ideais. Parece que o objetivo era apenas eleger vereadores para alocar mais militantes – uma estratégia digna de um jogo de xadrez político, mas com peões humanos.
Já a direita, ao ver uma extrema-direita à la Marçal emergir no cenário, decidiu moderar seu discurso, prometendo governar para todos. Quem diria que um bicho-papão poderia fazer a direita soar quase… progressista?
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Na prática, tanto os candidatos à prefeitura da esquerda quanto da direita mergulharam em um centrão pragmático, envoltos em uma aura de “quem sabe a gente engana” para chegar ao poder através de vices e alianças bizarras. É como se estivessem participando de um baile de máscaras político, onde ninguém é quem diz ser.
O caso de Curitiba é emblemático. Os candidatos apostas de ambos os lados tinham perfis tão parecidos que se diferenciavam mais pelos vices do que pelas próprias candidaturas. Venderam suas ideias, negaram seu passado e sua origem, entregando-se às negociatas como se fossem mercadorias em um leilão político.
Existe maior contradição que um candidato a prefeito que vai contra indígenas e um vice que os apoia? Ou outro que se diz a favor da ciência, mas tem como vice um negacionista apoiado por Bolsonaro?
A verdade é que partidos como MDB, PSD e PP, mais ligados ao centro oportunista, são mestres nesse jogo. Adaptam-se melhor ao discurso justamente por serem coerentes com seu histórico de não entrar nas dualidades Lula x Bolsonaro. São como camaleões políticos, mudando de cor conforme a conveniência.
E qual é o problema de partidos mais ideológicos adotarem essa conduta? Traem sua própria história, ignoram o passado e afastam a militância que está lá justamente por querer defender algo. Seja a família, os valores e os costumes, ou a defesa da classe trabalhadora e de direitos básicos… A partir do momento em que seu partido deixa sua história de lado, vale mais a pena para o eleitor anular seu voto ou escolher alguém que não os traiu. Pode ser até aquele com quem o eleitor não concorda, mas que nunca tentou enganar ninguém.
Para o eleitor, me parece, é melhor um canalha que te xingue olhando nos olhos, do que um apaixonado que mente dizendo o que você quer ouvir para depois fazer tudo diferente. Afinal, em política, às vezes é preferível um inimigo honesto a um amigo falso.
35% de pessoas não votando em ninguém no segundo turno em Curitiba é um número assustador. Parece que o eleitorado está dizendo: “Se é para escolher entre a peste e a cólera, prefiro ficar em casa”.
Em busca de cargos, em busca de poder, os pólos ideológicos confundiram seu eleitorado… e quem aproveitou foi o centrão.
*Deputado Estadual Requião Filho