Campanhas de conscientização são mais eficazes que policiamento e prisões no combate ao crime?

Campanhas de conscientização são mais eficazes que policiamento e prisões no combate ao crime?

Alguns comunicadores precisam rever suas condutas e opiniões: menos média por audiência e mais verdade

Imagine um mundo onde tudo se resolve com campanhas de conscientização na mídia. As ruas seriam seguras, o trânsito fluiria perfeitamente, e até os criminosos abandonariam suas práticas ilegais após assistirem a vídeos educativos, participarem de palestras inspiradoras ou acompanharem campanhas publicitárias em todos os meios de comunicação. Parece ideal, não? Pois é exatamente o que alguns comentaristas de Maringá defendem ao sugerir que radares não são eficazes e que, no lugar de multas, bastaria investir em publicidade para educar os motoristas e reduzir acidentes.

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Com receio de se tornarem impopulares e focados apenas na aprovação pública, esses comentaristas perdem a oportunidade de contribuir de forma efetiva para a solução do problema. Em vez de expor a verdade e incentivar mudanças reais, optam por agradar a audiência, deixando de lado o que a população realmente precisa ouvir.

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Seguindo essa lógica brilhante, podemos propor algumas soluções criativas para outros problemas. Por exemplo, quando a polícia começa a prender mais criminosos, em vez de comemorar a redução da criminalidade, deveríamos pedir uma campanha educativa: “Assaltar é perigoso para você e para sua vítima. Pense bem antes de cometer um crime!” Afinal, prender não resolve nada, certo? Quem precisa de cadeias quando temos vídeos motivacionais?

Mas vamos deixar a ironia de lado por um instante. A realidade é que o motorista que não respeita as leis de trânsito — as mesmas que ele foi obrigado a estudar para obter sua habilitação — é um criminoso em potencial. Ignorar um sinal vermelho ou ultrapassar o limite de velocidade não é só “um deslize”, mas uma escolha consciente que coloca vidas em risco. Quando ocorre um acidente causado por imprudência, o responsável deveria enfrentar consequências mais severas, pois sabia o risco que corria ao desobedecer à legislação.

E o problema não se limita ao trânsito. Na saúde pública, a mesma lógica falha se repete. Campanhas de conscientização sobre a dengue são realizadas há anos, vacinas são disponibilizadas, mas, ainda assim, muitos ignoram as orientações básicas. Quando os casos explodem, a culpa recai exclusivamente sobre o poder público, como se a responsabilidade individual não existisse. Nesse contexto, é essencial implementar uma legislação mais rígida para punir quem coloca a saúde pública em risco, seja por não manter os quintais limpos, ou por descartar lixo em locais inadequados.

Chegou a hora de parar de criar narrativas convenientes que apenas visam agradar a audiência. Focar na raiz dos problemas exige reconhecer que tanto o poder público quanto a sociedade têm responsabilidades. Sim, campanhas educativas são importantes, mas a fiscalização, punições adequadas e engajamento da população, elas são insuficientes.


Portanto, enquanto parte da mídia continuar a responsabilizar exclusivamente os gestores públicos, sem destacar que o cidadão também precisa assumir a responsabilidade por seus próprios erros, talvez seja hora de refletir: o que é mais eficaz, apenas alertar sobre o problema ou agir de forma concreta, com penas mais severas, para resolvê-lo? Afinal, enquanto perpetuamos a ideia de que “a culpa é sempre dos governantes”, vidas continuam sendo colocadas em risco — no trânsito, na saúde e na segurança pública.

Gilmar Ferreira

Gilmar Ferreira

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