A Lenda do “Arcanjo Embriagado”
Reza a lenda – e lendas sempre têm um fundo de verdade – que em uma certa cidade vive um sujeito peculiar. Nome de arcanjo ele tem, mas a santidade, essa se perdeu em alguma esquina junto com o bom senso. Antes, era da cidade alta(Céu), esbanjando suas conquistas questionáveis. Hoje, vaga por aí, entre um gole e outro, como uma estrela cadente que já brilhou demais e agora só faz barulho ao cair.
Nos seus momentos de inspiração etílica, o arcanjo moderno tem um passatempo curioso: enviar mensagens repletas de ameaças veladas de difamações. Ah, mas ele acredita que é intocável, que mensagens de visualização única são como pegadas na areia – apagadas com o tempo. Ingenuidade ou desespero? Difícil dizer. O que se sabe é que sua fé na impunidade é quase religiosa.
O mais curioso é sua memória seletiva. Lembra do que lhe convém e esquece – ou finge esquecer – as traições do passado, as jogadas escusas e até os deslizes conjugais em chácaras já viraram assunto de bar. Mas, como todo bom personagem trágico, insiste no erro, ignorando que o mundo dá voltas e que as testemunhas estão sempre por perto, prontas para refrescar sua memória. E, para sua surpresa, até mesmo as mensagens que enviou com visualização única – que julgava indetectáveis – podem, graças à tecnologia, se tornar provas incontestáveis de suas atitudes.
Talvez ainda haja tempo para um milagre: uma pausa para reflexão, um desvio de rota antes que o abismo se torne fundo demais. Quem sabe, com um pouco de juízo, ele desista de praticar extorsão, difamação, rasteiras e ameaças disfarçadas e aprenda a viver como um mero mortal, sem precisar atirar flechas para todos os lados?
O que podemos aprender com a “Lenda do Arcanjo Embriagado”? Antes de apontar o dedo, lembre-se da própria ficha corrida. Porque uma coisa é certa: a queda sempre dói mais para quem voou alto demais sem asas de verdade.
OBS: Qualquer semelhança desta lenda com a realidade pode ser, ou não, mera coincidência.