Aumento no fluxo de argentinos buscando emprego e moradia no Brasil em 2024
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Nos últimos anos, tem sido observado um movimento crescente de argentinos em direção ao Brasil, seja em busca de oportunidades de emprego, para fazer compras ou até mesmo para migrar de forma mais permanente. Essas características, que ganharam destaque especialmente em 2024 e início de 2025, refletem uma combinação de fatores econômicos, cambiais e sociais que tornaram o Brasil um destino atraente para os “hermanos”. Mas haverá, de fato, um aumento significativo nessas atividades? E quais são os motivos por trás disso? Vamos analisar.
Compras: Uma Invasão de Consumidores Argentinos
Sim, houve um aumento expressivo de argentinos cruzando a fronteira para fazer compras no Brasil, especialmente em cidades do sul, como Uruguaiana (RS) e Florianópolis (SC). Em dezembro de 2024, por exemplo, quase 93 mil argentinos entraram no Brasil pelo Rio Grande do Sul, um salto de 102,2% em relação ao mesmo período de 2023. Santa Catarina também registrou um aumento de 90%, com mais de 44 mil entradas. Esses números, relatados por fontes como o jornal Estadão , indicam uma tendência clara: os argentinos estão aproveitando a diferença cambial e os preços mais baixos no Brasil.
O principal motivo é econômico. A inflação na Argentina, embora tenha diminuído de 25,5% em dezembro de 2023 para 2,7% em dezembro de 2024, ainda reflete preços extremamente altos. Enquanto isso, o peso argentino se valorizou em relação ao dólar, mas o real brasileiro perdeu força, tornando produtos como alimentos, roupas, eletrodomésticos e itens esportivos até 70% mais baratos no Brasil, dependendo do câmbio e do local de compra. Em Florianópolis, turistas argentinos lotam compras como o Floripa e lojas como a Decathlon, comprando desde roupas a preços acessíveis (calças por 159 reais, cerca de US$28) até itens básicos que, na Argentina, custariam o dobro ou mais.
Emprego: Oportunidades Atraem os Argentinos
Quanto à busca por empregos, também há evidências de um aumento, embora os dados sejam mais qualitativos do que quantitativos em larga escala. O Consulado Argentino em Florianópolis, por exemplo, divulgou em 2024 vagas para profissionais com nível universitário, exigindo experiência e conhecimento de idiomas, o que mostra uma demanda por mão de obra entregue.
Os motivos aqui também são econômicos. A crise na Argentina, agravada nos últimos anos, empurrou muitos profissionais para buscar melhores atualizações e qualidade de vida. No Brasil, o salário mínimo (cerca de 1.412 reais em 2024, ou quase US$300) é significativamente mais alto que o argentino em termos relativos, e a diferença cambial torna os ganhos em reais ainda mais atraentes. Setores como agricultura (com atualizações diárias de 10 mil a 15 mil pesos argentinos para peões rurais), tecnologia e turismo em cidades como Florianópolis têm sido imãs para argentinos, especialmente jovens.
Migração: Um Êxodo em Alta
A migração de argentinos para o Brasil também cresceu. Segundo o Observatório de Migrações Internacionais do Brasil (OBMigra), os pedidos de residência de argentinos no país aumentaram 162% entre 2019 e 2022, chegando a 6.601 em 2022. Embora os dados mais recentes de 2024 e 2025 ainda não estejam consolidados, a tendência parece se manter, impulsionada pela proximidade geográfica, pela economia e por uma demanda reprimida pós-pandemia. Cidades como Camboriú (SC) e Porto Alegre (RS) já abrigam comunidades argentinas crescentes, muitas vezes formadas por pessoas que fogem da instabilidade econômica em seu país natal.
A crise econômica argentina, com alta inflação histórica e perda de poder aquisitivo, é o principal motor dessa migração. Além disso, a facilidade de trânsito migratório no âmbito do Mercosul e a percepção de maior estabilidade no Brasil — apesar de seus próprios desafios — tornam o país vizinho uma escolha lógica.
Por que isso está acontecendo?
Os motivos por trás desses três movimentos — compras, busca por emprego e migração — convergem para um cenário econômico favorável ao Brasil em relação à Argentina:
- Diferencial Cambial : O real desvalorizado frente ao dólar e ao peso argentino torna o Brasil um “paraíso de compras” e um lugar onde as negociações valem mais.
- Crise na Argentina : A combinação de inflação alta (mesmo com redução recente), custo de vida elevado e falta de oportunidades empurra os argentinos a buscar alternativas.
- Proximidade e Facilidade : A fronteira acessível e acordos como o Mercosul facilitam tanto o turismo de compras quanto a migração.
- Qualidade de Vida : Cidades brasileiras oferecem um equilíbrio entre trabalho e lazer (como as praias de Florianópolis) que atraem migrantes.
Houve um aumento notável de argentinos buscando emprego, fazendo compras ou migrando para o Brasil. Esse fluxo é mais visível no sul do país e em períodos de alta temporada, como o verão de 2024-2025, mas também reflete uma tendência de longo prazo. A principal razão é a disparidade econômica entre os dois países, agravada por anos de crise na Argentina e favorecida por um real enfraquecido. Para o Brasil, isso representa tanto uma oportunidade econômica — com o boom no varejo e a chegada de mão de obra comprometida — quanto um desafio para gerenciar esse crescente intercâmbio transfronteiriço. Resta observar como essa relação evolui nos próximos anos.