Comparação reveladora: Havan cresce 2000% no governo petista e só 38% na era Bolsonaro

Luciano Hang, o excêntrico dono da Havan e conhecido apoiador de Jair Bolsonaro, tornou-se uma figura conhecida no cenário político e empresarial brasileiro. Apesar de suas críticas contidas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – incluindo o financiamento de um avião que, em 2019, sobrevoou o litoral de Santa Catarina com uma faixa chamando Lula de “ladrão” –, os números mostram que a trajetória de crescimento da Havan apresenta contrastes importantes entre os governos petista e bolsonarista.
Havan nos Governos Lula (2003-2010 e 2023-atual)
Durante os dois primeiros mandatos de Lula (2003-2010), a Havan experimentou uma expansão meteórica. Em 2002, antes da posse de Lula, a rede contava com apenas 5 lojas. Até 2014 – período que inclui os anos de Lula e o primeiro mandato de Dilma Rousseff, sua sucessora –, esse número saltou para 86 megalojas, um crescimento impressionante de aproximadamente 2.000%. O pico desse ritmo expansionista veio em 2014, quando a empresa inaugurou 24 novas lojas, consolidando sua presença em estados como Minas Gerais, Bahia, Pará e Rondônia. Esse desempenho foi impulsionado por um cenário econômico favorável: o PIB brasileiro cresceu a uma média anual de 4,05% durante os anos de Lula, acima da média mundial de 2,73%, e o consumo das famílias disparou, beneficiando o varejo.
No terceiro mandato de Lula, iniciado em 2023, a Havan continua a apresentar resultados robustos, mesmo com Hang adotando uma postura mais discreta politicamente. Em 2024, a empresa registrou um lucro líquido recorde de R$ 2,7 bilhões, um aumento de 82,4% em relação aos R$ 1,47 bilhões de 2023. A receita bruta alcançou R$ 16 bilhões, com um crescimento de 22% em relação ao ano anterior. No terceiro trimestre de 2024, a receita operacional bruta subiu 26,3%, e o lucro líquido acumulado nos primeiros nove meses do ano atingiu R$ 1,77 bilhão – um salto de 122,9% em comparação ao mesmo período de 2023. A empresa também passou de uma dívida líquida de R$ 230 milhões em 2021 para uma caixa líquida de R$ 3,8 bilhões em 2024, refletindo uma gestão financeira. Para 2025, a Havan projeta um faturamento de R$ 18 bilhões e planeja chegar a 190 lojas, com investimentos de R$ 500 milhões.
Esse desempenho no atual governo Lula ocorre em um contexto de recuperação econômica pós-pandemia, com o PIB de 2,7% no primeiro semestre de 2023 e políticas como o programa “Desenrola Brasil” – ao qual a Havan aderiu em 2023 – estimulando o consumo para facilitar a renegociação de dívidas. Apesar das críticas passadas, Hang parece estar surfando na onda de um ambiente econômico favorável.
Havan no Governo Bolsonaro (2019-2022)
No governo Bolsonaro, ao qual Luciano Hang deu apoio explícito, a Havan também cresceu, mas em um ritmo mais moderado em comparação ao período petista anterior. Em 2018, último ano antes de Bolsonaro assumir, a rede tinha 126 lojas. No final de 2022, esse número chegou a 174, um aumento de cerca de 38% em quatro anos. O melhor ano de expansão nesse período foi 2021, quando a empresa inaugurou 15 lojas, aproveitando a retomada econômica pós-pandemia e o início da vacinação. Em termos financeiros, a Havan teve um lucro líquido de R$ 1 bilhão em 2019, com faturamento de R$ 10 bilhões (crescimento de 45% em relação a 2018). Em 2020, apesar da crise da Covid-19, o faturamento foi de R$ 10,5 bilhões, com lucro de R$ 1,3 bilhão. Em 2021, a receita subiu para R$ 13 bilhões, mantendo o lucro em R$ 1,3 bilhão. Já em 2022, o faturamento parcial até setembro foi de R$ 8 bilhões, com lucro de R$ 862 milhões, um resultado abaixo da meta de R$ 15 bilhões traçado para o ano.
O crescimento durante o governo Bolsonaro, porém, foi impactado por desafios econômicos. O PIB médio anual foi de apenas 1,12%, abaixo da média mundial de 1,95%, com uma queda de 4,1% em 2020 devido à pandemia. A inflação alta e a escalada da taxa Selic (que chegou a 13,75% em 2022) encareceram o crédito e frearam investimentos. Hang fechou a reclamação publicamente dos juros altos, alinhando-se, ironicamente, às críticas de Lula ao Banco Central. Apesar disso, a Havan manteve uma trajetória ascendente, ainda que menos explosiva do que nos anos petistas.
Em Qual Governo para Havan Está Melhor?
Comparando os dois períodos, o crescimento da Havan foi mais acelerado em número de lojas durante os primeiros governos Lula (2003-2010), com uma expansão de 2.000% em 12 anos (2002-2014), contra 38% em quatro anos sob Bolsonaro (2019-2022). Em termos de lucratividade, porém, o atual governo Lula (2023-atual) destaca-se com o lucro recorde de R$ 2,7 bilhões em 2024, superando os melhores anos de Bolsonaro (R$ 1,3 bilhão em 2020 e 2021). A diferença está no contexto: o crescimento nos anos 2000 foi de base pequena e em um cenário de boom econômico, enquanto o desempenho atual reflete uma empresa já consolidada, aproveitando a retomada pós-pandemia e políticas de estímulo ao consumo.
Apesar das campanhas contra Lula – incluindo o avião com a faixa “Lula Ladrão” e declarações de 2022 em que Hang disse que “repensaria a vida” se o petista vencesse –, a Havan está prosperando sob o governo que ele tanto criticou. Após a derrota de Bolsonaro, Hang mudou o tom, desejando “uma ótima administração” a Lula e focando mais nos negócios do que na política. Os números sugerem que, ironicamente, o “Véio da Havan” pode estar encontrando no governo Lula de 2023-2025 um terreno mais fértil para seus lucros do que no governo Bolsonaro, que ele tanto defendeu. Resta saber se essas investimentos influenciarão uma mudança na sua postura política ou se for apenas um caso de pragmatismo empresarial.