Construção civil: Maringá desponta internacionalmente como exemplo de planejamento sustentável e qualidade de vida

Sinduscon reúne especialistas para debater futuro das edificações e do planejamento urbano
A crescente preocupação com a crise climática tem impulsionado construtoras e municípios a adotarem práticas sustentáveis na construção civil. Essa tendência reflete a conscientização global sobre a necessidade de reduzir emissões de carbono, preservar recursos naturais e promover eficiência energética.
De acordo com o prefeito de Maringá (PR), Sílvio Barros (PP), a gestão municipal desempenha um papel crucial nesse contexto, atuando como catalisadora das transformações necessárias para evitar impactos ambientais irreversíveis. “Prefeitos e gestores podem incentivar esses projetos por meio de políticas de incentivo fiscal, regulamentações que priorizem construções verdes e parcerias público-privadas que fomentem a inovação sustentável”, afirmou Barros durante evento promovido pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-PR), em Curitiba.




Engenheiro civil especializado em Engenharia Sanitária e Ambiental, Barros foi o primeiro presidente da Fundação Vitória Amazônica, a maior ONG ambientalista do Amazonas. Agora, em seu terceiro mandato como prefeito de Maringá, anuncia uma gestão ainda mais voltada para iniciativas ESG. “Novos empreendimentos e projetos precisam incorporar essa tendência, que impacta diretamente o setor financeiro da construção. Nosso objetivo é implementar políticas públicas que, além de regulamentar, incentivem essas práticas, garantindo competitividade aos projetos. Se o custo das construções sustentáveis se elevar demasiadamente, o mercado reagirá negativamente. Por isso, é essencial que o poder público ofereça estímulos, como redução de impostos e mecanismos para evitar excessos, tornando as inovações viáveis e competitivas”, ressaltou.
Com aproximadamente 420 mil habitantes, Maringá se destaca como uma das poucas cidades do Brasil que conciliam crescimento econômico e preservação ambiental. Planejada, com avenidas largas, amplas áreas verdes e um alto nível de qualidade de vida, a cidade figura entre os principais rankings que posicionam o Paraná como o estado mais sustentável do Brasil.
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Inovação, sustentabilidade e resiliência climática são os pilares que orientam o terceiro mandato de Silvio Barros como prefeito de Maringá. “Estabelecemos para nossa gestão a missão de proporcionar qualidade de vida aos cidadãos em um ambiente saudável, alegre, seguro, sustentável e que estimule a cooperação e a parceria entre os setores público, privado e a sociedade organizada”, afirmou o prefeito na cerimônia de posse.
Nos projetos municipais, o foco será em agrofloresta, bioconstrução, criatividade, alavancagem de negócios, turismo e reaproveitamento de resíduos. Os planos incluem ainda a revitalização do Parque do Ingá e a reestruturação da arborização urbana.
As obras de expansão da rede de gás canalizado de Maringá e região já começaram. O município pretende alcançar 20 Km de gasoduto, que vai abastecer indústrias, condomínios residenciais e empreendimentos com biometano, um combustível limpo e renovável, gerado a partir de substratos vegetais. “O gás ecológico deve atrair investimentos para a cidade, especialmente de empresas que demandam energia limpa, representando um grande diferencial competitivo”, ressaltou o prefeito.
Tendências na construção civil
Dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e da Global Alliance for Buildings and Construction indicam que o setor da construção civil é responsável por 36% a 39% das emissões globais de CO₂, considerando tanto as emissões operacionais quanto o carbono incorporado (embodied carbon) nos materiais e processos construtivos.
Esses números evidenciam que a construção civil continua sendo um dos setores que mais contribuem para o aumento dos gases de efeito estufa no mundo e ressaltam a urgência de repensar os métodos tradicionais de construção, incorporando soluções inovadoras que priorizem eficiência energética e redução das emissões.
“Em 2023, tivemos o ano mais quente da história; em 2024, batemos esse recorde; 2025 vai superar 2024, e essa sucessão continuará se nós não tomarmos providências para mudar padrões de comportamento. A sustentabilidade é um debate global, e o Sinduscon tem tratado esse tema com grande relevância”, ressaltou o prefeito. “As chuvas que enfrentaremos daqui para frente não terão relação com o que aconteceu no passado. São tempestades que, em poucas horas, equivalem a dias, semanas e, em alguns casos, meses de precipitação. A engenharia civil tem uma responsabilidade muito grande na qualidade de vida das pessoas, e isso não pode ser ignorado”, completou.
O prefeito citou exemplos bem-sucedidos no tratamento, descarte e reaproveitamento de resíduos, como o município de São Bento do Sul, em Santa Catarina, onde a decomposição em aterros sanitários foi substituída por usinas que transformam o lixo em materiais para a construção civil. Barros também destacou uma tecnologia alemã capaz de converter 100 garrafas de vidro reciclado em um metro quadrado de revestimento de alto valor para o setor. “O vidro é o único material reciclável que pode ser reutilizado indefinidamente sem perder suas propriedades estruturais”, ressaltou.
Outra forma de reduzir o impacto ambiental da construção civil é compensar as emissões de carbono das edificações. “A descarbonização é uma tendência mundial, faz parte dos acordos internacionais e será um dos principais temas da COP30, no Brasil”, afirmou Barros. Ele citou empresas que investem em reflorestamento, energias renováveis e outras iniciativas para neutralizar as emissões geradas na construção e operação dos edifícios, aliando essas práticas ao uso de tecnologias e materiais sustentáveis.
Um exemplo é a madeira gerada, proveniente de reflorestamentos planejados, em que o corte é controlado e compensado pelo plantio de novas árvores, garantindo a renovabilidade do recurso. “Uma tecnologia relativamente simples pode conferir à madeira resistência superior a outros materiais, permitindo sua substituição ao aço, concreto e até vidro. Isso a torna uma excelente opção para colunas, ilhas, paredes, pisos e lajes”, explicou Barros, citando exemplos adotados no Canadá e na França.
Bairro mais sustentável do mundo
O prefeito citou iniciativas de reconhecimento mundial na cidade, como o prédio do Sicredi Dexis e o Eurogarden, um investimento de mais de R$ 200 milhões do Grupo Nogaroli, que recebeu, em 2024, o título de bairro mais sustentável do mundo pelo Green Building Council, conquistando 95 de 110 pontos na certificação LEED. Inspirado em cidades europeias, o bairro contará com mais de 20 mil árvores, amplas alamedas, parques e ciclovias em uma área de 1,4 milhão de metros quadrados, promovendo um ambiente onde as pessoas possam se deslocar sem depender de veículos motorizados.
Localizado em uma região central de Maringá, o Eurogarden também abrigará o novo centro cívico da cidade. Órgãos como a Justiça do Trabalho, o Fórum Eleitoral e o Hospital da Criança já estão instalados na área, e novas instituições devem se estabelecer nos próximos anos.
A sustentabilidade está presente desde a fase inicial das obras, com práticas que reduzem os impactos ambientais, como o Plano de Gerenciamento de Resíduos (PGRCC), planejamento detalhado para evitar desperdícios e escassez de materiais, além da utilização da tecnologia BIM, que previne erros nos projetos e possibilita medidas preventivas, evitando gastos desnecessários com recompra de materiais. Os trabalhadores também recebem treinamento para adoção de práticas sustentáveis, como descarte correto de resíduos e uso racional de água e energia.
O bairro possui eficiência hídrica, com monitoramento contínuo da qualidade da água e captação de água da chuva para irrigação automatizada dos jardins, utilizando gotejamento e controle central. A fiação elétrica e óptica é subterrânea, eliminando a poluição visual e prevenindo quedas de energia comuns em redes aéreas. A energia do empreendimento é gerada por uma usina solar própria, com produção anual de 421.667 kWh, suficiente para abastecer 220 residências por mês. A iluminação pública conta com lâmpadas LED 3.000k, que reduzem o ofuscamento e a poluição luminosa, proporcionando maior conforto visual para pedestres e ciclistas.
No quesito mobilidade urbana, o bairro investe em 5 km de ciclovias, bicicletários e estações de carregamento para veículos elétricos. Os bike stops oferecerão suporte para pequenos reparos, enquanto o sistema de compartilhamento facilitará o uso de bicicletas, incentivando um deslocamento mais sustentável.
A segurança do Eurogarden será garantida por um sistema de monitoramento 24h, com câmeras de reconhecimento facial, botão do pânico e drones equipados com alto-falantes, permitindo comunicação direta com a Central de Segurança. Além disso, o bairro contará com um aplicativo próprio, que integra computação em nuvem, big data, telecomunicações e internet das coisas, ampliando as conexões digitais e reforçando a segurança. A previsão é que o bairro esteja 100% habitável até 2027, recebendo cerca de 60 mil pessoas, entre moradores, trabalhadores e visitantes.
De acordo com o CEO do Eurogarden, o empresário Jefferson Nogaroli, o investimento em tecnologia e sustentabilidade valorizou o metro quadrado do terreno, que está sendo negociado entre R$ 8 mil e R$ 10 mil.