Falta de cuidados com a língua pode impactar a saúde

A língua é um órgão muscular, com função importante para o paladar, deglutição e a fala. De acordo com especialistas do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), a falta de higienização correta e comportamentos nocivos, como uso de álcool e tabaco, podem afetar este órgão e desencadear problemas de saúde, como a halitose e o câncer de boca.
O mau hálito é uma condição que afeta aproximadamente 50 milhões de pessoas no Brasil, o que representa cerca de 30% da população segundo a Associação Brasileira de Halitose (ABHA). De acordo com especialistas do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), há vários fatores que podem causar a halitose, entre eles a saburra lingual.
O presidente do Grupo de Trabalho de Halitose do CROSP, Dr. Mário Sergio Giorgi, explica que o fato da língua possuir uma anatomia irregular favorece o acúmulo de células epiteliais descamadas, bactérias e restos de alimentos. “Esses elementos formam a saburra lingual, que possui uma coloração branca ou amarelada”, esclarece.
O mau hálito é um odor desagradável proveniente da cavidade oral e pode ser classificado em halitose genuína ou imaginária. “O mau cheiro está associado à cavidade oral e os principais responsáveis por essa halitose são os chamados compostos sulfurados voláteis (CSVs), que estão depositados sobre a língua (saburra). Estudos têm demonstrado também que a halitose está relacionada à diminuição da produção de saliva; portanto é necessário tomar água – pelo menos 2 litros ao dia”, ressalta o Dr. Mário Sergio.
Para controle da halitose, o profissional diz que a remoção da saburra lingual se faz necessária, impactando até mesmo a percepção de sabores. “A remoção deve ser feita com um limpador de língua, da parte posterior para a anterior, com movimentos delicados”, orienta.
Limpador ou escova para a higienização de línguas
“O limpador e a escova podem ser utilizados, mas precisam ter indicação e a técnica ensinada para ter eficiência e evitar traumas”, orienta o presidente do Grupo de Trabalho de Halitose do CROSP. Dr. Mário salienta, ainda, que a remoção da saburra com limpador deve ser treinada e orientada a fim de não provocar ferimentos na língua. Para quem optar por escova de dente para a higienização, a indicação de escova deve ser com um perfil da cabeça baixo e com cerdas de nylon para, em movimentos circulares, remover o biofilme lingual.
A língua e as doenças
Segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA), em 2024 foram registrados mais de 15 mil novos casos de câncer na cavidade oral. O presidente da Câmara Técnica de Estomatologia, Dr. Fábio Alves, afirma que o câncer de boca está mais frequentemente relacionado ao tabaco e ao álcool. “A lateral da língua e o assoalho da boca são as regiões mais afetadas”, diz. O profissional alerta para as pessoas prestarem atenção nas feridas que não se cicatrizam no período de 15 dias, pois devem ser avaliadas por um cirurgião-dentista.
“O câncer de língua manifesta-se como úlceras persistentes, áreas avermelhadas ou esbranquiçadas, endurecidas e indolores no início. O tabagismo e o consumo de álcool são fatores de risco importantes. Se notar alterações persistentes na língua, é fundamental procurar um cirurgião-dentista para uma investigação adequada”, orienta o Dr. Fábio Alves.
Doenças gerais
De acordo com o presidente da Câmara Técnica de Estomatologia do CROSP, a língua pode refletir a saúde de um indivíduo. “Muitas condições/doenças sistêmicas podem ter reflexo na língua. Entre as ocorrências que podem surgir estão deficiências nutricionais por meio de anemia ferropriva -língua pálida e com sensação de ardor. Deficiência de vitamina B12 ou folato – língua avermelhada, brilhante e dolorida”, explica.
Pacientes com imunossupressão podem apresentar candidíase oral, causando ardor e sensação de queimação. Segundo o profissional, a candidíase oral pode ser o primeiro sinal de várias condições sistêmicas, dentre elas a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS). Outra alteração da língua que pode indicar imunossupressão é a presença de linhas brancas que aparecem na borda da língua, geralmente bilaterais. Essa alteração é conhecida como língua pilosa. Doenças endócrinas como a diabetes mellitus também estão associadas ao maior risco de candidíase, língua seca e ardor.
Uma alteração da sensibilidade comum em mulheres acima de 50 anos, conhecida como síndrome da boca ardente, pode causar sensação de queimação intensa na ponta da língua e outras regiões da boca. “Esta síndrome pode estar relacionada a alterações neurológicas e afeta muito a qualidade de vida dos pacientes”, diz o especialista em Estomatologia.
O risco de perder a língua
Uma das principais causas da perda de parte da língua ou sua totalidade é o câncer. “O tratamento geralmente é cirúrgico e, para a cura do paciente, requer a remoção de todo o tumor e consequentemente amputação da língua. Traumas também podem causar perda importante de estrutura da língua”, esclarece o Dr. Fábio Alves.
Língua saudável
O presidente da Câmara Técnica de Estomatologia do CROSP alerta que a higienização da língua deve ser feita logo após escovar os dentes, a fim de manter a saúde da boca. “A higiene da língua deve ser feita diariamente – em especial, pessoas com saburra lingual intensa devem realizar a limpeza pelo menos duas vezes ao dia”, recomenda.
A alimentação e a hidratação também são importantes para a manutenção da saúde bucal: “beber água regularmente ajuda a manter a boca limpa e evita o acúmulo excessivo de biofilme. Alimentos fibrosos (como maçã, cenoura e pepino) auxiliam na remoção mecânica de resíduos da língua”, conclui o especialista.