Mulheres assumem liderança em empresas de transporte de cargas e logística

No setor de transporte de cargas e logística, a presença de homens é historicamente quase a totalidade nos cargos de direção. Em 2024, um levantamento do Instituto Paulista do Transporte de Carga (IPTC) revelou que apenas 3% das mulheres ocupavam cargos de liderança: como gerentes, diretoras, conselheiras e presidentes. As empresas que participaram da pesquisa representaram um total de 53.468 colaboradores.
Em contrapartida, em meio a esse cenário, mulheres têm quebrado barreiras e demonstrado garra e um novo olhar no mundo dos negócios. Muitas, inclusive, por meio de sucessão familiar. É o caso da empresária Tarsia Gonzalez, que começou sua trajetória profissional no setor aos 16 anos, em 1986, inspirada pelo pai, Tarcísio Gonzalez, imigrante espanhol que chegou ao Brasil fugido da guerra civil e que, de caminhoneiro a empreendedor, realizou o sonho de abrir sua empresa, a Transpesminas, atual Transpes, uma das maiores do segmento de logística do país, com mais de 20 filiais.
De 2015 para cá, Tarsia atua como conselheira acionista da empresa e participa de todo o processo da tomada de decisões do grupo e do planejamento estratégico elaborado para os próximos dez anos. Formada em Ciências Contábeis e Psicologia, ela ressalta que sua jornada foi de muito aprendizado e de crescimento gradual.
Tarsia diz que sempre foi visionária, engajada e aberta aos desafios. Com sua expertise na área financeira, ao longo dos 12 anos, foi autora de vários projetos de reestruturação e melhorias, com foco em governança e gestão humanizada de pessoas. Reestruturou o Departamento Pessoal, participou da consultoria para a implantação da cultura do programa 5S, da criação da política de ações preventivas e conquista da certificação ISO 9000. “Isso garantiu um crescimento sustentável, com processos descritos e implantados”, destaca.
Como fruto do trabalho de Tarsia, a empresa conquistou, por três vezes consecutivas, o prêmio do Guia As 150 Melhores Empresas para se Trabalhar do Brasil. Em 2014 venceu como Revelação e Melhor em Logística e como a Melhor Empresa do Setor de Serviços em 2015. O sucesso serviu de inspiração para o lançamento do primeiro livro da empresária, em 2018, Tarsia ‘Apaixonados pelo Brasil, Onde Estão?’ que alerta sobre a necessidade de se criar gerações mais conectadas com a inteligência emocional, mais conscientes do seu papel de liderança e detentoras do legado daqueles que vieram antes.
Já a empresária Juliana Martins iniciou a trajetória no setor aos 16 anos, quando passou a trabalhar em uma das empresas de seu pai, a Repemig-Revendedora de Petróleo Minas Gerais Ltda, hoje Grupo RP. “Passei por cada um dos setores administrativos da empresa, por exigência de meu pai”.
O conhecimento na área se intensificou quando também passou a trabalhar, aos 29 anos, no SEST SENAT, como coordenadora por dois anos e meio. Em seguida retornou ao Grupo RP, onde assumiu a gerência administrativa. Dois anos e meio depois, o pai faleceu e ela e os irmãos ficaram à frente da direção da empresa.
De diretora comercial e administrativa até maio de 2023, Juliana integra hoje o conselho do Grupo RP. Segundo ela, o processo da sucessão familiar foi natural. Sobre a predominância da presença masculina no setor, Juliana diz que está havendo uma evolução muito grande. “Há 40 anos, a participação feminina era quase imperceptível, ouso arriscar dizer em torno de 1 a 2% do total de homens, então a evolução tem acontecido como em todos os setores profissionais”, diz.
O presidente do Sindicato das Empresas de Cargas e Logística de Minas Gerais (Setcemg) se diz satisfeito com o crescimento da presença feminina em posições de liderança. “As mulheres têm desempenhado um papel cada vez mais estratégico no setor de transporte e logística. Valorizar a presença feminina e ampliar sua participação em cargos de liderança não é apenas uma questão de igualdade, mas também de fortalecer o setor com novas perspectivas e formas de gestão”, enfatiza.