Fahur esquece a Constituição e trata Guarda Municipal de Maringá como milícia urbana?

Fahur esquece a Constituição e trata Guarda Municipal de Maringá como milícia urbana?

Fahur fala: “Se der para eliminar, elimina. Se não, prende.” Sílvio Barros autoriza : “Se pegar, pode dar uma surra”

A cena desta segunda-feira (2), na solenidade de entrega de armamentos para a Guarda Civil Municipal de Maringá, revelou algo mais preocupante do que pistolas novas: uma guinada perigosa no discurso oficial da segurança pública da cidade. Sob aplausos entusiasmados e metáforas que remetem ao Brasil colonial, o prefeito Silvio Barros e o deputado federal Sargento Fahur defenderam, de formas diferentes, o uso da força como resposta prioritária à criminalidade. Um caminho que, se seguido à risca, nos leva direto a um modelo de segurança autoritário, ineficaz e socialmente desastroso.

Silvio Barros, antes resistente ao armamento da GM, agora se diz “vencido pela maioria”. Mais preocupante do que a mudança de opinião é a forma como ele justificou a nova postura: evocando a palmatória, um símbolo de castigo físico da era colonial, para sugerir que bandidos precisam “tomar uma surra”. Esse tipo de metáfora não é só anacrônica. É perigosa. Serve como autorização moral para abusos, agressões e para a crença de que violência gera segurança, uma ideia refutada por especialistas, pela realidade brasileira e pela própria Constituição.

Paraná registra mais de 10 mil casos e 469 mortes por síndromes respiratórias em 2025

Pior ainda foi a fala de Fahur. Com a autoridade de deputado federal, ele afirmou que “se der para eliminar, elimina. Se não, prende”. O recado é claro: a força letal deve ser a primeira opção. Não se trata mais de proteger, mas de eliminar. Isso é mais do que um discurso punitivista. É um incentivo à barbárie, ao justiçamento, ao esvaziamento do devido processo legal.

Motocicleta com 827 multas e dívida de R$ 250 mil é apreendida pela GCM em Maringá

Se a Guarda Municipal seguir esse modelo, teremos problemas sérios em Maringá. A GM foi criada com uma proposta de policiamento comunitário, de proximidade com o cidadão, com foco na mediação de conflitos e na preservação do patrimônio público. Transformá-la numa tropa de confronto, armada e incentivada a agir com truculência, rompe esse pacto e distorce completamente sua missão.

É natural que os guardas queiram melhores condições de trabalho, inclusive equipamentos de proteção. Mas há uma linha tênue entre a valorização profissional e o empoderamento irresponsável. Quando servidores dizem, com entusiasmo, que agora estão “autorizados” a agir com mais energia, devemos nos perguntar: quem está regulando esse uso da força? Quem responde se alguém “descer o braço”, como alertou um dos próprios guardas?

Com Lula, diesel fica 20% mais barato que no governo Bolsonaro

A criminalidade precisa ser enfrentada, sim. Mas não com nostalgia da palmatória nem com a retórica da eliminação. Segurança pública se constrói com inteligência, investimento em prevenção, políticas sociais e fortalecimento das instituições, não com discursos de guerra.

O que os cidadãos de Maringá querem é segurança. E segurança não se faz com justiceiros, mas com profissionais capacitados, que respeitam a lei, os direitos humanos e os princípios constitucionais. A Guarda Municipal deve ser uma instituição que atua dentro da legalidade, e não uma milícia improvisada, operando com base em critérios próprios e vontade pessoal de “fazer justiça com as próprias mãos”.

Como o próprio prefeito costuma recorrer à Bíblia em seus discursos, vale lembrar um episódio emblemático das Escrituras: foi ouvindo a maioria que Pilatos lavou as mãos e permitiu a crucificação de Jesus. Que essa passagem sirva de advertência. A vontade popular nem sempre aponta para a justiça. Muitas vezes, ecoa apenas o clamor por vingança. Liderar não é ceder ao que agrada a maioria no momento, mas agir com responsabilidade e coragem, mesmo quando isso significa contrariar os aplausos e fazer o que é certo.

Ouça a fala do prefeito Silvio Barros no evento

Redação O Diário de Maringá

Redação O Diário de Maringá

Notícias de Maringá e região em primeira mão com responsabilidade e ética

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *