Cristianismo e Armas: A Contradição com os Ensinamentos de Jesus

Cristianismo e Armas: A Contradição com os Ensinamentos de Jesus

Por Gilmar Ferreira

Num cenário social marcado pelo medo e pela insegurança, cresce entre os cristãos brasileiros um discurso de defesa armada, frequentemente associado à ideia de legítima defesa. Em muitas igrejas, a frase “quem não tem espada, compre uma” (Lucas 22:36) é usada como justificativa bíblica para o uso de armas de fogo. Mas será que esse argumento resiste a uma leitura completa e honesta do Evangelho?

A resposta, à luz das Escrituras, é não. O Novo Testamento apresenta Jesus como o Príncipe da Paz, cuja vida e ensinamentos rejeitam toda forma de violência. Quando Pedro usa uma espada para defender seu Mestre, Jesus o repreende duramente: “Guarde a espada! Pois todos os que usam a espada, pela espada morrerão” (Mateus 26:52). Em seguida, cura o inimigo ferido (Lucas 22:51), mostrando que a resposta cristã não é ferir, mas curar.

O versículo de Lucas 22:36, citado fora de contexto, não autoriza o armamento. Diversos teólogos, como John Stott, explicam que a fala de Jesus tem caráter simbólico, alertando os discípulos sobre os tempos difíceis que enfrentariam após sua morte. Prova disso é que, quando os discípulos apresentam duas espadas, Jesus responde: “Basta!” (Lucas 22:38), encerrando o assunto.

A ética de Jesus é radicalmente contrária à lógica da vingança e da força. No Sermão do Monte, Ele declara: “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem” (Mateus 5:44) e: “Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus” (Mateus 5:9). O apóstolo Paulo reforça esse ensinamento em Romanos 12:21: “Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem.”

A posição pacifista não é novidade na história da fé cristã. O teólogo Tertuliano, no século II, escreveu: “O Senhor, ao desarmar Pedro, desarmou também todo soldado cristão.”

O teólogo protestante Jacques Ellul, em A Subversão do Cristianismo, afirma: “A violência é, por natureza, a negação do amor. Quem toma a violência como instrumento inevitável está longe do espírito de Cristo.”

Defender-se é um instinto humano compreensível, mas o chamado de Jesus ultrapassa nossos instintos. A cruz, símbolo maior da fé cristã, representa a renúncia à força e a entrega confiante ao amor de Deus. Confiar em armas para garantir segurança é, em última instância, uma declaração de desconfiança no poder do Evangelho.

A proposta cristã não é pragmática, mas transformadora. Ela nos convida a responder à violência com firmeza ética e coragem espiritual, não com revide. O Reino de Deus não avança com espadas, mas com compaixão, justiça e paz. O cristão que empunha uma arma, mesmo com boas intenções, precisa perguntar: “Isso está de acordo com o Cristo crucificado que eu sigo?”

Jesus disse ao ladrão na cruz, segundo o Evangelho de Lucas 23:42-43:

O ladrão disse a Jesus:
“Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu Reino.”

E Jesus respondeu:
“Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso.”

Essa passagem mostra a misericórdia e o perdão de Jesus, mesmo nos momentos finais, oferecendo salvação ao arrependido.

Redação O Diário de Maringá

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