Moral seletiva e o inglês da conja

Por Gilmar Ferreira
Quando se trata de criticar adversários, principalmente o presidente Lula, Sergio e Rosângela Moro são implacáveis. Vestem a toga da moralidade, empunham a espada da austeridade e posam como guardiões da ética pública. Mas basta olhar um pouco além do discurso para perceber o abismo entre o que pregam e o que praticam.
A mais recente revelação de que a deputada Rosângela Moro utilizou R$ 9.200 da cota parlamentar para pagar aulas de inglês em uma escola de Belo Horizonte é apenas mais um capítulo do velho roteiro da hipocrisia política. A justificativa oficial é que o curso visa capacitá-la para diálogos com autoridades internacionais. Ótimo. Mas por que não pagar com o próprio salário, que ultrapassa os R$ 46 mil por mês?
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Rosângela, que chegou à política pela esteira da Lava Jato e da popularidade do marido, parece confundir capacitação com privilégio. A cota parlamentar existe para ajudar no exercício do mandato, não para bancar luxos pessoais, ainda que “autorizados”. Moralizar a política exige mais do que seguir a letra fria das regras. Exige exemplo.
Vale lembrar que o termo “conja”, usado ironicamente na manchete, foi uma criação do próprio Sergio Moro ao tentar se referir à esposa de maneira formal, em um de seus discursos públicos.
E já que o tema é capacitação, cabe uma pergunta sincera: não seria mais útil, em vez de gastar dinheiro público para que Rosângela aprenda inglês, o senador Sergio Moro, agora pré-candidato ao governo do Paraná, investir em um bom curso de português? Afinal, seu histórico de tropeços na língua portuguesa é extenso, e quem aspira governar um estado precisa, no mínimo, saber se comunicar com clareza.
É curioso como os autoproclamados defensores do dinheiro público são rápidos para apontar dedos, mas lentos ou cegos quando o assunto é o próprio bolso.
No fim, tudo isso só reforça o que muitos já perceberam: o discurso moralista, quando não acompanhado da prática, é só mais uma forma sofisticada de enganar o eleitor.