Após perdas de quase R$ 5 bi, Pix demanda verificação por IA
Em meio a um cenário globalizado de crimes financeiros (FinCrime), as fraudes apresentam padrões cada vez mais parecidos. No entanto, o Brasil tem se destacado à medida que o Pix amplia sua popularidade. De acordo com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), com base em dados do Banco Central, essa modalidade de pagamento aumentou em 52% o número de transações no ano passado em comparação a 2023, com quase R$ 27 trilhões movimentados no período.
Isso graças à facilidade de uso e, principalmente, à rapidez — características que também adicionaram complexidade ao panorama nacional de prevenção de crimes financeiros. Conforme dados liberados pelo Banco Central, via Lei de Acesso à Informação (LAI), as perdas causadas por fraudes no sistema de pagamento chegaram a quase R$ 5 bilhões em 2024.
“O Pix colocou o Brasil em uma posição única do ponto de vista operacional, já que as transferências instantâneas ainda não são tão difundidas em outros mercados. Considerado um vetor para tipos específicos de fraude, o sistema facilitou o uso de laranjas para lavagem de dinheiro, pois agora é muito mais fácil abrir contas e movimentar fundos rapidamente”, afirma Rogério Freitas, especialista em Crimes Financeiros da Lynx Tech, empresa especializada em tecnologias baseadas em Inteligência Artificial (IA) e Aprendizado de Máquina (ML).
Segundo Rogério, há outro fator que agrava ainda mais a situação: a criatividade brasileira. “É uma característica própria do país combinar recursos para cometer crimes, e isso já acontece por meio da combinação do Pix, das contas fantasmas e dos aplicativos de apostas, as chamadas ‘bets’, algo ainda inédito em outros países”, observa.
Nesse contexto, o especialista destaca a importância das instituições brasileiras adotarem soluções de inteligência artificial, como os Modelos Adaptativos Diários (DAM), que permitem analisar com maior profundidade os padrões de comportamento financeiro, considerando os hábitos de consumo e o histórico de movimentações, sendo continuamente atualizados a partir dos dados de cada operação — o que melhora sua capacidade de adaptação diária.
“A IA tem contribuído muito para a identificação de padrões de comportamento. Isso é importante porque a engenharia social — quando o cliente é enganado e ele mesmo realiza as transações para atender aos fins do fraudador — ainda é uma das principais preocupações do setor. No entanto, essas operações costumam se desviar do padrão habitual do usuário e se assemelham ao comportamento típico de fraudadores, e é aí que a inteligência artificial ajuda a reconhecer as discrepâncias entre as movimentações legítimas e o comportamento malicioso”, conclui Rogério.