O Alto Preço do Protecionismo: Como as Tarifas de Trump e a Crise da Laranja Agravaram o Custo de Vida nos EUA

Por Fúlvio B. G. de Castro
Professor de Sociologia e bacharel em Direito.
Nos últimos anos, o povo norte-americano enfrentou e enfrenta um aumento notável no custo de vida. Embora muitos fatores possam ser apontados como causa — pandemia, instabilidade global, mudanças climáticas — é impossível ignorar o papel central das políticas econômicas adotadas pelo governo Donald Trump. Sob a bandeira do nacionalismo econômico, o presidente impôs tarifas agressivas sobre importações, reacendeu guerras comerciais e adotou um protecionismo que, embora bem intencionado para proteger a indústria doméstica, acabou atingindo o bolso do cidadão comum.
As tarifas sobre o aço, o alumínio e, sobretudo, sobre produtos chineses, elevaram o custo de insumos industriais e bens de consumo em todo o país. Ao taxar o que antes era importado com facilidade e a preços competitivos, criou-se uma cadeia de encarecimento generalizado. Empresas passaram a repassar esses custos ao consumidor final. Famílias de classe média e baixa, que pouco ou nada se beneficiaram das medidas protecionistas, viram o valor do supermercado, do aluguel e dos serviços básicos disparar.
Não bastasse o efeito das tarifas, a população norte-americana sofreu um novo golpe com o colapso da produção de laranja na Flórida — responsável por cerca de 90% da produção do país. A combinação de furacões, doenças como o greening e o impacto das mudanças climáticas dizimou pomares e provocou escassez. O resultado? O suco de laranja, um item básico na mesa do americano, alcançou preços recordes. E esse é apenas um exemplo de como fatores ambientais, somados à má gestão e falta de estratégias de adaptação, podem agravar a vida cotidiana.
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O curioso é que tudo isso não é exatamente novidade na história dos Estados Unidos. Desde 1925, o país alterna ciclos de abertura e fechamento comercial. A Lei Smoot-Hawley, em 1930, elevou tarifas a níveis históricos e foi amplamente responsabilizada por aprofundar a Grande Depressão. Mais tarde, os EUA liderariam o movimento de abertura com o GATT e, posteriormente, com a OMC, promovendo décadas de crescimento global. O retrocesso observado com Trump não foi apenas político; foi também histórico.
Hoje, é preciso questionar: a quem serve o protecionismo? A pequena parcela da indústria que foi protegida compensa o peso que recaiu sobre as famílias, os pequenos agricultores, os consumidores e os trabalhadores? O nacionalismo econômico é sustentável em um mundo em que cadeias de produção e distribuição são transnacionais?
O protecionismo de Trump gerou ganhos pontuais, mas custou caro. Ao tentar blindar setores específicos da economia, expôs a população ao aumento de preços, instabilidade e perda de competitividade global. Os efeitos ainda são sentidos, e a lição parece clara: isolar-se do mundo pode parecer corajoso, mas, na prática, costuma ser uma escolha cara — e quem paga, no fim das contas, é o povo.