A Distorção da História em Frente ao Posto G10

A Distorção da História em Frente ao Posto G10

Na saída para Astorga, em Maringá, um cenário que deveria ser de livre manifestação democrática, como a que presenciamos hoje, 27 de julho de 2025, defronte ao Posto G10, revela uma preocupante distorção da realidade. Um cartaz com os dizeres “Fora Lula Fora Ditadura ou paramos o regime ou ele para o Brasil” levanta questões sobre a compreensão do que realmente significa viver em uma ditadura e o perigo de banalizar um período tão sombrio da história brasileira.

Quem genuinamente acredita que o Brasil vive hoje sob um regime ditatorial, ou tem uma idade que permite a confusão de memórias, ou não vivenciou, ou jamais estudou o que foi a Ditadura Militar Brasileira (1964-1985). Se estivéssemos, de fato, em uma ditadura, manifestações como a que ocorreu no Posto G10 seriam simplesmente impensáveis. Não haveria espaço para a livre expressão de descontentamento político, muito menos para a aglomeração de pessoas pedindo intervenção militar ou criticando abertamente o governo.

A realidade da Ditadura Militar era brutalmente diferente. A liberdade de expressão era suprimida, a imprensa censurada e qualquer forma de oposição era severamente reprimida. Os “Tiros de Guerra” e outros quartéis não seriam palcos para manifestações; pelo contrário, seriam os locais de onde partiriam as ordens para dispersar com violência qualquer aglomeração. A repressão era sistemática e implacável.

As Sombras da Ditadura: Relatos de Perseguição e Tortura

Durante os anos de chumbo, a perseguição política era uma realidade diária. Militares agiam com autoritarismo, prendendo, torturando e exilando aqueles que ousavam se opor ao regime. Inúmeros políticos, jornalistas, líderes estudantis e membros da sociedade civil organizada foram vítimas dessa barbárie.

Para citar apenas alguns exemplos marcantes:

  • Presidentes como João Goulart (deposto pelo golpe) e Juscelino Kubitschek tiveram seus direitos políticos cassados.
  • Jornalistas como Vladimir Herzog, assassinado sob tortura nas dependências do DOI-CODI em 1975, e Alexandre Vannucchi Leme, estudante e militante político torturado e morto em 1973, são símbolos da brutalidade da repressão.
  • Políticos como Luís Carlos Prestes, líder comunista que passou anos na prisão e no exílio, e Miguel Arraes, ex-governador de Pernambuco, cassado e exilado, representam a perseguição à classe política.
  • Líderes de movimentos sociais e estudantis, como José Dirceu e Franklin Martins, foram presos e torturados, e muitos outros desapareceram ou foram mortos em operações clandestinas do regime.

A tortura era uma prática disseminada, utilizada para arrancar confissões e intimidar opositores. O pau de arara, choques elétricos, afogamentos e sevícias psicológicas eram algumas das técnicas empregadas pelos órgãos de repressão. Não havia habeas corpus para presos políticos, e a justiça era frequentemente ignorada em favor da “segurança nacional”.

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Carlos Alberto Brilhante Ustra: O Símbolo da Repressão e da Tortura

Um dos nomes que se tornaram sinônimo da brutalidade da Ditadura Militar é o Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. Ustra comandou o DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna) de São Paulo entre 1970 e 1974, um dos mais notórios centros de tortura do regime. Durante sua gestão, centenas de pessoas foram presas, torturadas e muitas delas mortas ou desaparecidas.

Seus crimes são amplamente documentados por relatórios oficiais, como o da Comissão Nacional da Verdade, e por depoimentos de sobreviventes e familiares de vítimas. Ustra foi o primeiro militar a ser publicamente declarado torturador pela Justiça brasileira, em 2008. Entre os inúmeros relatos de tortura e morte sob seu comando, estão casos emblemáticos como os de:

  • Edgard de Aquino Miranda: Jornalista e militante político torturado por 72 horas consecutivas sob o comando de Ustra, resultando em sua morte.
  • Carlos Alberto Soares de Freitas: Desaparecido político, cuja família busca justiça até hoje, tendo sido visto pela última vez sob custódia do DOI-CODI.
  • Maria Amélia de Almeida Teles: Sobrevivente que relatou ter sido brutalmente torturada junto com sua irmã e cunhado, grávida, nas dependências do DOI-CODI.

Apesar das evidências e condenações, Ustra, que faleceu em 2015, nunca foi punido criminalmente pelos seus crimes, beneficiado pela Lei da Anistia de 1979, que ainda hoje é objeto de intenso debate. A adoração de figuras como Ustra por alguns setores, inclusive por políticos como Jair Messias Bolsonaro, representa um preocupante sinal de revisionismo histórico e de desrespeito às vítimas da ditadura.

Aqueles que hoje clamam por intervenção militar ou classificam o atual governo como uma ditadura, sem conhecer ou ignorando a história e as atrocidades cometidas por figuras como Ustra, correm o risco de banalizar a memória das vítimas e de pavimentar o caminho para a repetição de erros do passado. A democracia, com todos os seus desafios e imperfeições, é o único regime que permite a livre manifestação, a crítica e a busca por soluções para os problemas do país através do diálogo e do voto. Desejar um regime autoritário é flertar com a perda dessas liberdades duramente conquistadas.

Redação O Diário de Maringá

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