Leitura perde espaço e estudo propõe caminhos de ação

Em um cenário de Bienais lotadas e redes sociais repletas de conteúdos literários, a leitura efetivamente praticada pela população brasileira revela uma realidade preocupante: nos últimos quatro anos, quase 7 milhões de pessoas deixaram de se identificar como leitoras. Diante desse cenário, o Instituto Pró-Livro lança a obra Retratos da Leitura no Brasil 6, disponível para download gratuito no site www.prolivro.org.br.
Organizado por Zoara Failla, também coordenadora da pesquisa, o livro reúne 18 especialistas de diferentes áreas que analisam os dados da mais recente edição da pesquisa nacional Retratos da Leitura. Participam da obra: José Castilho Marques Neto, Fabiano Piúba, Margarita Cuellar-Barona, Idmea Semeghini Siqueira, Nagila E. da Silva Polido, Teresa Aliperte, Maria do Rosário Mortatti, Eliana Yunes, Ana Erthal, João Ceccantini, Luiz F. Martins Lima, Jeferson Assunção, Jorge Moisés Kroll do Prado, Bel Santos Mayer, Mariana Bueno, Alexandre Martins Fontes, Rogerio Robalinho e Karine Pansa.
Entre os principais alertas está o dado de que, pela primeira vez desde 2007, o Brasil registra mais não leitores (53%) do que leitores (47%). “Precisamos compreender o que afasta as pessoas dos livros para que possamos atuar com políticas e práticas eficazes”, afirma Zoara Failla.
A publicação analisa caminhos para a formação de leitores em um contexto cada vez mais digital, em que mais de 90% dos jovens passam o tempo livre conectados, principalmente em redes sociais, jogos e músicas. A leitura, nesse cenário, perde espaço para hábitos que impactam não apenas a cognição e a linguagem, mas também aspectos emocionais, conforme apontado por pesquisas neurocientíficas citadas na obra.
Com base nas descobertas da pesquisa, os coautores oferecem contribuições sobre políticas públicas, práticas educativas, papel das bibliotecas, influência das redes sociais, mediação familiar e escolar, entre outros aspectos. Para José Castilho e Fabiano Piúba, por exemplo, a formação de leitores deve ser tratada como política estratégica de Estado, vinculada a contextos democráticos e a investimentos de longo prazo.
A comparação com outros países ibero-americanos, feita por Margarita Cuellar-Barona, do CERLALC, estabelece novos parâmetros de análise. Já pesquisadoras como Idmea Siqueira, Nagila Polido e Teresa Aliperte destacam a importância de iniciar o vínculo com a leitura desde a primeira infância, com o envolvimento das famílias.
O papel dos influenciadores digitais na formação de leitores também é tema do livro. Autores como Ana Erthal, João Ceccantini e Luiz F. Martins Lima examinam como o consumo de conteúdos de booktokers pode despertar curiosidade, embora nem sempre se traduza em hábitos de leitura consistentes.
Em relação ao acesso ao livro, Jorge Kroll do Prado e Bel Santos Mayer ressaltam a função das bibliotecas como espaços comunitários e de formação cidadã. Mariana Bueno apresenta o dado de que 81% dos brasileiros não compraram livros nos últimos três meses, o que evidencia a urgência de políticas de acesso e estímulo à leitura.
Alexandre Martins Fontes discute o papel das livrarias como espaços de descoberta, enquanto o produtor cultural Rogerio Robalinho analisa o impacto dos eventos literários na criação de vínculos com os livros. Karine Pansa encerra o volume com uma reflexão sobre a relevância da leitura na formação de cidadãos preparados para enfrentar os desafios de um mundo em constante transformação.
Mais do que apresentar dados, Retratos da Leitura no Brasil 6 amplia o debate sobre o papel da leitura na sociedade brasileira e propõe caminhos para o fortalecimento de uma cultura leitora sólida, plural e acessível.
O conteúdo completo está disponível gratuitamente no site do Instituto Pró-Livro: www.prolivro.org.br.