Brasil precisa reindustrializar, alerta professor da FGV

O Brasil permanece excessivamente dependente da exportação de commodities e distante das cadeias globais de maior valor agregado. Essa é a avaliação do economista e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Paulo Gala, que participa da programação do 9º Fórum de Manufatura, promovido pela Dialogia, em 18 e 19 de agosto, com a proposta de discutir caminhos para fortalecer o parque industrial brasileiro.
Para o especialista, a falta de uma base industrial sólida compromete a competitividade do país e limita a geração de empregos qualificados. “O problema surge quando a principal forma de ganhar dinheiro em um país é, eternamente, extrair recursos da terra. Nesse cenário, não há geração de conhecimento produtivo nem inovação”, afirma.
Gala alerta que o Brasil vem enfrentando um processo de reprimarização da economia, apostando cada vez mais em produtos primários e menos em bens industriais de maior valor agregado. “Perdemos complexidade produtiva, a produtividade caiu e a tendência é que esse quadro se agrave enquanto as manufaturas domésticas não forem recuperadas”, diz.
Segundo o professor, o país desperdiçou o impulso econômico provocado pelo boom das commodities e não avançou na sofisticação da indústria. “Em 2014, por exemplo, cinco produtos — ferro, soja, açúcar, petróleo e carnes — representaram quase 50% das exportações brasileiras. Enquanto isso, países asiáticos estruturaram políticas industriais estratégicas e avançaram em inovação”, compara.
A saída, segundo Gala, está em um esforço coordenado entre governo, setor produtivo e universidades, com foco em tecnologia, pesquisa e capacitação técnica. “Produzir bens complexos, como carros e equipamentos eletrônicos, exige aprendizado produtivo, que é social. Ninguém se torna médico sem residência — e ninguém aprende a fabricar aviões sem treinamento técnico e vivência industrial”, exemplifica.
Ele defende a criação de um ecossistema de inovação, com estímulo à pesquisa aplicada e incentivo à formação de profissionais especializados. “Sempre haverá riscos de má gestão ou captura do Estado, mas a omissão é muito mais prejudicial. Se não fizermos nada, o país continuará preso a uma economia de baixa complexidade, vulnerável a choques externos”.
Para Gala, investir na indústria é mais do que uma escolha econômica — é uma estratégia social. “Os setores industriais mais sofisticados são justamente os que mais geram empregos qualificados e ajudam a elevar a renda. Só com produtividade e inovação é possível garantir crescimento sustentado”.
O 9º Fórum de Manufatura será um espaço para aprofundar esse debate e discutir estratégias concretas para reposicionar o Brasil nas cadeias globais de valor. A programação vai abordar temas como política industrial, inovação, formação de talentos e o papel da manufatura na construção de um país mais competitivo e resiliente.
Para realizar as inscrições, basta acessar: https://forumdemanufatura.com.br/