Impasse comercial entre EUA e União Europeia pode abrir brecha para exportadores brasileiros

Tarifa de 15% firmada entre os blocos amplia oportunidades para o Brasil, mas país também pode ser alvo de medida global dos EUA
A recente definição tarifária entre Estados Unidos e União Europeia, anunciada em 27 de julho, estabeleceu uma alíquota de 15% sobre a maioria dos produtos europeus exportados ao mercado norte-americano. Embora o acordo tenha evitado a aplicação de tarifas mais elevadas, que chegaram a ser cogitadas em até 50%, especialistas alertam que o cenário segue instável e pode abrir espaço tanto para exportadores brasileiros quanto para riscos diretos ao país.
Thiago Oliveira, CEO da Saygo, holding especializada em comércio exterior, câmbio e soluções digitais para operações internacionais, afirma que o empresariado brasileiro precisa agir com agilidade diante da nova configuração comercial. “A saída parcial de fornecedores europeus de determinadas cadeias de suprimento pode abrir janelas temporárias de demanda. Quem estiver estruturado para atender com velocidade, conformidade regulatória e previsibilidade cambial terá vantagem”, diz.
Dados do Departamento de Comércio dos Estados Unidos indicam que a União Europeia movimenta mais de US$ 500 bilhões anuais em exportações para o país. Com a aplicação da nova tarifa, produtos como vinhos, carnes, queijos, maquinário industrial e itens siderúrgicos podem perder competitividade, criando lacunas para países com acordos sanitários vigentes e capacidade logística consolidada, como o Brasil.
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Apesar de o novo acordo ter evitado um cenário de guerra tarifária, a reação global tem sido de cautela. A análise predominante entre autoridades e economistas é a de que poucos estão comemorando. O texto aprovado é visto como uma solução intermediária, que ainda carece de clareza operacional e pode ser reavaliado nos próximos meses.
Além da tarifa voltada aos europeus, o governo dos Estados Unidos também indicou que pretende impor uma tarifa global de até 50% sobre países que não tenham acordo comercial direto com Washington — o que inclui o Brasil. A medida, prevista para entrar em vigor em 1º de agosto, amplia os desafios para a política de exportações brasileiras. Segundo estimativas do setor, a iniciativa pode afetar diretamente até 10 mil empresas nacionais e comprometer mais de 120 mil empregos, com impacto potencial de 2,7% no PIB do estado de São Paulo.
Para Oliveira, o momento exige antecipação. “Antes que os reflexos comerciais desse impasse se materializem, é fundamental preparar a estrutura comercial, técnica e cambial para ocupar os espaços deixados pelos fornecedores europeus”, reforça. “A combinação de qualidade, agilidade regulatória e flexibilidade logística coloca o Brasil como alternativa viável em diversos segmentos. Mas é preciso se posicionar agora, antes que a disputa se intensifique.”
O executivo recomenda atenção a quatro frentes principais: otimização logística, adequação regulatória, estruturação cambial e diversificação contratual. “Exportar para os Estados Unidos exige certificação, rastreabilidade e uma base financeira sólida, capaz de suportar oscilações cambiais. Este não é o momento para improvisos”, alerta.
A Saygo já assessora empresas brasileiras nos segmentos de carnes processadas, aço semiacabado, sucos, café e conservas. Com base nas movimentações entre Washington e Bruxelas, Oliveira projeta um crescimento relevante nas exportações. “Estimamos que o Brasil tenha potencial para avançar até 12% nos embarques aos EUA até o fim de 2025, caso a reorganização logística se intensifique e o setor nacional esteja pronto para responder com competitividade”, afirma o especialista.
Em paralelo, o governo brasileiro intensificou ações diplomáticas para tentar reverter o risco de inclusão na tarifa global. Senadores viajaram a Washington para abrir diálogo com parlamentares norte-americanos, e medidas de contingência estão sendo estudadas pela equipe econômica. No entanto, até o momento, não houve resposta oficial da Casa Branca às tratativas.
Mais do que aproveitar uma oportunidade pontual, o CEO enfatiza a importância de uma atuação estruturada. “Não basta ocupar o espaço de forma emergencial. É hora de usar inteligência de mercado, antecipar gargalos e conquistar contratos de médio e longo prazo. A previsibilidade, nesse contexto, é o principal ativo competitivo”, conclui o empresário.
Sobre a Saygo
A Saygo é uma holding brasileira especializada em comércio exterior, formada pela unificação da Proseftur Assessoria em Comércio Exterior e da Zebra Corretora de Câmbio. Com mais de 23 anos de experiência, a empresa oferece soluções integradas para importadores e exportadores, abrangendo assessoria em operações internacionais, serviços cambiais e desenvolvimento de tecnologias para otimização de processos globais. Seu compromisso é auxiliar empresas a ingressarem e expandirem suas atividades no mercado internacional, proporcionando estratégias inovadoras e suporte especializado.