Malafaia, Bolsonaro e os escândalos que expõem a hipocrisia religiosa

Por Fúlvio B. G. de Castro
Professor de Sociologia e Bacharel em Direito.
Um áudio vazado nesta semana trouxe à tona um embate improvável: o pastor Silas Malafaia, uma das figuras mais influentes do bolsonarismo, teceu duras críticas contra Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro. Nas gravações, Malafaia chama o deputado de “babaca, inexperiente, um estúpido de marca maior” e ameaça tornar públicas suas divergências caso o parlamentar repita determinadas posturas.
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Em um aspecto, preciso concordar com o Malafaia! O Eduardo Bolsonaro é um babaca.
A revelação expôs não apenas tensões internas no núcleo da extrema direita, mas também uma contradição recorrente na figura de Malafaia. Conhecido por defender moralidade, bons costumes e disciplina rígida dentro das igrejas, o pastor aparece no áudio destilando palavrões, insultos e articulando estratégias políticas com um ex-presidente réu em processo por tentativa de golpe contra a democracia.
O episódio reacende um debate mais amplo: a distância entre o discurso religioso e a prática de alguns líderes evangélicos no Brasil. Malafaia não está sozinho em casos de incoerência e hipocrisia. A trajetória recente registra pastores flagrados em escândalos que vão desde o enriquecimento ilícito com dízimos até situações bizarras — como líderes religiosos filmados usando roupas íntimas femininas, em episódios que viralizaram e colocaram em xeque a imagem de “defensores da moral”.
O Papo, a Papada ou a Papuda o que complica mais a vida de Eduardo Bolsonaro?
Essas contradições reforçam a percepção de que parte do meio religioso foi capturada por interesses políticos e financeiros. Nos púlpitos, a retórica insiste em santidade e condena fiéis por pequenos desvios, mas fora deles, muitos pastores se comportam como personagens de bastidores políticos ou até protagonistas de escândalos de natureza pessoal.
Malafaia, frequentemente visto em jatinhos e rodeado de aliados da cúpula bolsonarista, consolidou-se como um dos porta-vozes mais agressivos do conservadorismo evangélico, ao custo de transformar a fé em palanque eleitoral. Ainda assim, a manutenção desse sistema só é possível porque milhares de fiéis continuam financiando igrejas e lideranças com dízimos, muitas vezes sem perceber que sustentam um projeto político-religioso que pouco devolve em termos de transparência e integridade.
No fim das contas, o áudio não é apenas um embate pessoal: ele ilumina um padrão. Pastores que pregam moralidade, mas são flagrados em contradições — seja em alianças golpistas, seja em escândalos pessoais, ou até em episódios grotescos que escancaram o abismo entre o que dizem e o que fazem.
Esses são os defensores da “Família Brasileira”?