Fintechs concederam R$ 35,5 bi em crédito em 2024
O ecossistema de fintechs no Brasil demonstrou maior capacidade de adaptação em um ambiente econômico marcado por juros altos, liquidez restrita e instabilidade de mercados internacionais. A Pesquisa Fintechs de Crédito Digital 2025, realizada pela PwC Brasil e pela Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD), mostra que o volume de crédito concedido pelo grupo de respondentes no Brasil em 2024 alcançou R$ 35,5 bilhões, representando um aumento de 68% em relação ao ano anterior (R$ 21,1 bilhões).
O estudo avalia as operações de fintechs em 2024 e aponta tendências importantes que indicam crescimento sólido na concessão de crédito, ampliação da base de clientes e aposta em novos produtos. “A expansão consistente das fintechs é um mérito das empresas que souberam navegar em águas turbulentas com estratégia, inovação e eficiência, construindo resultados sólidos apesar de um ambiente econômico desafiador”, afirma Willer Marcondes, sócio para serviços financeiros na Strategy&, consultoria estratégica da PwC Brasil.
A pesquisa mostra que a ampliação na base de clientes das empresas participantes superou 67,5 milhões entre as pessoas físicas, uma alta de 26% em relação ao ano anterior, considerando clientes no Brasil e no exterior. O destaque, porém, foi no crédito para empresas, que cresceu 67%, incluindo as micro e pequenas empresas (71,7%), mas também avançou entre as companhias de maior porte (cerca de 800 clientes com faturamento acima de R$ 300 milhões).
Essa expansão não é apenas quantitativa. Ela reflete a capacidade das fintechs de diversificar suas operações, atingir novos nichos e consolidar mercados previamente pouco explorados. Além disso, o próprio amadurecimento das fintechs é evidenciado pelo porte das empresas nesta edição da pesquisa: um quarto delas tem mais de 300 profissionais e 13% ultrapassaram a marca de mil pessoas nas suas equipes.
Outro destaque é a intensificação do uso de capital próprio como principal fonte de financiamento para sustentar o crescimento robusto dessas fintechs. Quase metade (46%) utiliza capital próprio para financiar suas operações, superando outras opções tradicionais, como linhas de crédito bancário ou captação via mercado de capitais. Além disso, destaca-se o papel dos Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) como canal de captação para a expansão das fintechs de crédito.
A Pesquisa Fintechs de Crédito Digital também mostra que cerca de metade das fintechs aposta no desenvolvimento de novas soluções e na revisão dos modelos de concessão de crédito. Nesta edição, 52% das empresas investiram em inovação de produtos, um salto em relação aos 35% da pesquisa anterior. A especialização em nichos estratégicos, como o crédito para pequenas e médias empresas e o crédito com garantias, por exemplo, posicionou as fintechs em mercados que antes eram dominados apenas por grandes bancos.
“A diversificação de produtos dentro do portfólio é uma estratégia para aumentar o LTV (life time value) do cliente. O produto de crédito tem uma recorrência de receita no pagamento da parcela mas, com contratos de meses ou anos, a recorrência de novas operações é baixa. Quando se amplia a oferta com soluções complementares e relevantes, aumenta-se significativamente a chance de manter o cliente engajado por mais tempo e com maior valor agregado”, afirma Ann Williams, diretora-presidente da ABCD e COO da Creditas.
De acordo com Ann, a expansão dos empréstimos com garantias, aliada ao foco em tecnologia, trouxe benefícios claros para a inadimplência, principalmente no crédito a empresas, que apresentou queda significativa, recuando de 5,3% para 3,4%, enquanto para pessoas físicas a taxa média se manteve controlada diante do perfil de risco mais elevado. “Este movimento permite taxas de juros mais competitivas e, ao mesmo tempo, reduz a inadimplência, contribuindo para um mercado de crédito mais eficiente e acessível”, explica.
Isso porque entre as estratégias mais consistentes adotadas pelas fintechs para sustentar o crescimento, além da ampliação da oferta de produtos, está a incorporação de garantias nas operações de crédito. A pesquisa demonstra que 77% das fintechs aceitam garantias em suas operações, em comparação com 70% no ano anterior e apenas 34% em 2021. Entre os tipos de garantias aceitas, consignados e recebíveis lideram, ambos com 46% de participação, seguidos por aplicações financeiras (29%) e bens e imóveis.
A tecnologia sempre esteve no centro da proposta de valor das fintechs, mas o último ano marcou um salto importante na forma como o setor incorpora novas ferramentas, especialmente no campo da Inteligência Artificial (IA). Os números da pesquisa comprovam essa mudança: 67% das fintechs estão em fase de desenvolvimento ou estudo de soluções baseadas em IA – mais que o dobro em relação ao ano anterior (31%).
Além disso, mais da metade das empresas (55%) pretende adotar alguma solução de IA nos próximos dois anos, 44% delas citam a IA generativa e 17% apostam em IA responsiva.
No relacionamento com o cliente, a IA também está presente em chatbots mais sofisticados e assistentes virtuais. Contudo, o uso da IA generativa no front office é visto com cautela. As empresas ainda preferem aguardar por uma regulamentação específica no Brasil, priorizando a segurança de dados e a conformidade com normas existentes, como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
O engajamento com o Pix e o Open Finance promete crescer. Nos próximos anos, respectivamente 29% e 44% das fintechs que ainda não participam têm planos de adotar essas iniciativas. Ao mesmo tempo, tecnologias emergentes ganham terreno: enquanto apenas 2% das fintechs atuam hoje com DREX (Real Digital), 33% manifestam interesse em adotar a solução.
Participam desta edição da Pesquisa Fintechs de Crédito Digital 44 fintechs brasileiras. Embora tenha havido uma variação na composição da amostra entre os últimos dois anos analisados, a metodologia da pesquisa foi ajustada para garantir a comparabilidade dos dados apresentados ao longo do tempo.