Bolsonarismo no Paraná: cassações, solidariedade e interesses eleitorais em Maringá

Por Fúlvio B. G. de Castro
Professor de Sociologia e Bacharel em Direito
Nos últimos anos, a política paranaense tem se destacado por um enredo digno de ironia. Três nomes se sobressaem como protagonistas de quedas e conflitos políticos: Cris Lauer, ex-vereadora de Maringá; Deltan Dallagnol, ex-deputado federal e ex-procurador da Lava Jato; e Ricardo Arruda, deputado estadual. Todos conservadores, bolsonaristas convictos — e todos envolvidos em processos que marcaram suas carreiras.
O cenário ganha ainda mais complexidade quando se considera os interesses eleitorais no município de Maringá, palco das articulações políticas, disputas de mandatos e construção de alianças que podem impactar diretamente nas eleições municipais e estaduais.
Cris Lauer: da tribuna ao banco dos réus
A vereadora mais votada da história de Maringá teve seu mandato cassado por improbidade administrativa. Lauer, que pregava moralidade e combate à corrupção, foi acusada de utilizar seu chefe de gabinete para tratar de assuntos pessoais com recursos públicos. Além da cassação, teve seus direitos políticos suspensos por 11 anos.
Mesmo diante da derrota, a ex-vereadora manteve sua presença política, mobilizando aliados e transformando a indignação em espetáculo público — estratégia que, segundo analistas, visa manter relevância e influência no eleitorado de Maringá, especialmente entre eleitores conservadores e bolsonaristas.
Deltan Dallagnol: testemunha de defesa
Em um revés do destino, Deltan Dallagnol, cassado pelo TSE por irregularidades em sua candidatura, atuou como testemunha de defesa de Cris Lauer. O ex-procurador, símbolo do combate à corrupção, testemunhou em favor de uma parlamentar acusada de improbidade.
Dallagnol cumpriu apenas o papel processual, sem declarações públicas, mas sua participação reforçou a narrativa de perseguição política utilizada por aliados da vereadora, valorizando a imagem de Lauer diante de eleitores que acompanham o bolsonarismo em Maringá.
Ricardo Arruda: solidariedade conservadora
O deputado estadual Ricardo Arruda também se engajou na defesa de Lauer, classificando sua cassação como uma “perseguição política” e atribuindo a decisão da Câmara a motivações pessoais de inveja. Arruda participou de eventos públicos organizados por Lauer, incluindo debates sobre vacinação infantil, demonstrando que a solidariedade política nesse grupo é tanto performática quanto estratégica.
Segundo analistas, essa articulação também reforça interesses eleitorais locais, ao consolidar Arruda e Lauer como figuras centrais no eleitorado conservador de Maringá, fortalecendo alianças que podem ser decisivas em futuras disputas municipais e estaduais.
Fábio Oliveira: o aliado sem processos
O deputado estadual Fábio Oliveira (Podemos) integra o círculo de solidariedade bolsonarista, alinhando-se a Lauer e Arruda. Diferente dos outros protagonistas, Oliveira não responde a processos judiciais, mantendo sua trajetória política sem acusações em curso.
Conhecido por defender pautas conservadoras, a família tradicional e o combate à corrupção, Oliveira reforça a rede de apoio entre políticos de direita no Paraná, agregando legitimidade a Lauer e Arruda, e atuando como ponto estratégico para futuros interesses eleitorais em Maringá, onde o bolsonarismo busca consolidar sua base e ampliar influência.
A ironia final
O que une esses quatro nomes não é apenas ideologia, mas a capacidade de transformar derrotas em espetáculo político. Entre cassações, processos, mobilizações públicas e interesses eleitorais, eles se apoiam mutuamente para sustentar a narrativa de injustiça, mesmo quando os mandatos deveriam simbolizar poder e moralidade.
No Paraná e em Maringá, o bolsonarismo pode ser resumido assim: cassações + processos + indignação pública + interesses eleitorais = política performática. Enquanto isso, os eleitores observam o circo de aliados defendendo aliados, com discursos inflamados, mas resultados — mandatos — cada vez mais escassos.