Projetos de Giselli Bianchini: Fé demais e sem proveito ao cidadão?

Projetos de Giselli Bianchini: Fé demais e sem proveito ao cidadão?

Uma nova polêmica se desenha na Câmara Municipal de Maringá com o Projeto de Lei 17510/2025, de autoria da vereadora Giselli Bianchini. A proposta busca incluir a Bíblia Sagrada como material complementar e paradidático nas escolas da rede pública municipal. Apesar da vereadora defender que o uso seria facultativo e puramente com fins de aprendizado histórico e cultural, a iniciativa levanta sérias preocupações sobre os limites entre a fé e o ensino público no Brasil.

O texto do projeto tenta se blindar com termos como “respeito ao caráter laico do Estado” e a “ausência de proselitismo”, mas a simples escolha de um livro sagrado específico já é, por si só, uma violação da neutralidade que se espera do Estado. A laicidade não significa que o poder público é contra a religião, e sim que ele não privilegia nenhuma delas. Ao singularizar a Bíblia, o projeto dá um tratamento especial ao cristianismo, em detrimento do islamismo, do judaísmo, ou de religiões de matriz africana, ferindo diretamente o princípio de isonomia e a diversidade religiosa presente em nossa sociedade.

A grande falha do projeto reside na prática. É praticamente impossível garantir que o uso da Bíblia seja puramente cultural e não se transforme em um veículo de doutrinação religiosa. A linha entre a análise acadêmica e a pregação é tênue, e a própria dinâmica da sala de aula dificulta a fiscalização. A iniciativa impõe um fardo extra aos professores, que precisarão se equilibrar para abordar um texto sagrado sem que suas próprias crenças influenciem a interpretação. Isso cria um ambiente propício para conflitos e pode minar a confiança da comunidade escolar no sistema de ensino.

Em um momento em que a educação de Maringá enfrenta desafios reais, como a infraestrutura escolar, a valorização dos professores e a necessidade de aprimorar o currículo, o Projeto de Lei da vereadora Giselli Bianchini desvia o foco do que realmente importa. O lugar de um livro sagrado é na família e na comunidade religiosa de cada um, não em um espaço que deve ser de todos, independentemente da sua fé. O verdadeiro papel da escola pública é formar cidadãos críticos e respeitosos da diversidade, e isso se faz com diálogo e conhecimento, não com a imposição de uma única tradição religiosa.

Redação O Diário de Maringá

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