O Jogo do Corporativismo: Por que a Votação Contra Giselli Bianchini é uma Lição de Cinismo Político

A rápida votação que barrou a comissão processante contra a vereadora Giselli Bianchini não foi apenas um ato administrativo, mas sim um espetáculo de cinismo político e corporativismo. Longe de ser uma coincidência ou um simples procedimento, a estratégia de votar no mesmo dia em que o pedido foi protocolado revela um manual de sobrevivência do poder local. A lógica é implacável: se a comissão fosse negada de forma brusca, como no caso da vereadora Cris Lauer, o ato poderia ser questionado na justiça e forçar uma reabertura. A nova tática foi mais sutil, porém, mais perversa.
Ao colocar a proposta em pauta e “derrotá-la” em uma votação rápida, os vereadores criaram uma cortina de fumaça que tem dois propósitos. Primeiro, eles mostram publicamente que “cumpriram o rito” democrático, deixando menos margem para questionamentos legais. Segundo, e mais importante, eles enviam uma mensagem inconfundível: somos nós contra vocês.
Essa união não respeita divisões partidárias, ideológicas ou de gênero. O que se viu na câmara não foi um debate entre direita, esquerda ou centro, mas uma união de todos os lados. Quando os interesses de um membro do “clube” estão ameaçados, as diferenças ideológicas desaparecem em nome de um bem maior: o de proteger o próprio poder.
A população, nesse cenário, é vista como um obstáculo, um grupo que precisa ser mantido à distância para não “perturbar” a ordem estabelecida. A manobra dos vereadores serve como um recado claro de que eles estão acima do escrutínio popular e que qualquer tentativa de questioná-los, inclusive através da justiça, será recebida com uma defesa coordenada e implacável.
Essa é a verdadeira face do corporativismo: um pacto de silêncio e proteção que se sobrepõe à moralidade, à transparência e, em última instância, à própria justiça. A decisão de não investigar as acusações contra Giselli Bianchini não é um incidente isolado, mas uma demonstração de força de um sistema que se auto-protege, ignorando os princípios básicos de representação e responsabilidade.