Afece chega aos 58 anos com trajetória marcada pela solidariedade de voluntários

Afece chega aos 58 anos com trajetória marcada pela solidariedade de voluntários

Afece chega aos 58 anos com trajetória marcada pela solidariedade de voluntários

A Força do trabalho coletivo construiu a instituição que hoje atende mais de 900 pessoas com múltiplas deficiências de forma 100% gratuita

No próximo 27 de setembro, a Associação Franciscana de Educação ao Cidadão Especial (Afece) completa 58 anos. Sediada em Curitiba (PR), essa instituição sem fins lucrativos se tornou um marco nacional no atendimento gratuito a pessoas com múltiplas deficiências. Mas, mais do que números, sua história é feita de solidariedade e do comprometimento de famílias, colaboradores e voluntários que, tijolo por tijolo, construíram uma trajetória coletiva.

Um desses rostos é Elisabete Maria de Aguiar Maia, que é voluntária desde 1983. “Eu fui convidada a ser tesoureira em uma diretoria totalmente voluntária. Nunca houve remuneração, sempre foi por amor à causa”, lembra. Entre recibos e planilhas, ela colaborou com a Afece em tempos difíceis, cada gesto fez a diferença.

Um momento marcante para Elisabete foi a conquista do terreno na Rua Simão Bolívar, no final dos anos 1980. A área foi doada à Afece após a intermediação da então primeira-dama do Paraná, Débora Dias e outras esferas do governo estadual, que ficou sensibilizada com as dificuldades enfrentadas pela instituição. A construção da primeira sede só foi possível graças à campanha do “tijolinho”, na qual cada pessoa podia comprar, simbolicamente, uma parte da obra. “Ali, conseguimos consolidar nosso trabalho e planejar o futuro”, recorda Elisabete.

Outra lembrança que ela guarda foi a intermediação de uma grande doação da Receita Federal, em Brasília (DF). Uma carga apreendida estava prestes a ser inviabilizada porque a instituição inicialmente indicada não tinha documentos regulares. Assim que soube dessa situação, Elisabete correu atrás dos papéis, fez contatos e organizou o transporte para que tudo chegasse à Afece. Os caminhões trabalharam até a madrugada, e os itens foram levados para Curitiba. O que parecia um empecilho se transformou em uma oportunidade: os materiais foram vendidos em bazares organizados pelos colaboradores e voluntários, e o dinheiro financiou serviços essenciais. “Foi um trabalho enorme, mas conseguimos transformar em oportunidade”, conta a voluntária.

O tripé: educação, saúde e assistência social

As histórias contadas por Elisabete refletem o espírito coletivo que sustentou a Afece desde o início. Esse mesmo esforço criou uma estrutura que hoje se organiza em três frentes principais: educação, saúde e assistência social.

Na educação, a Escola São Francisco de Assis atende diariamente mais de 200 alunos com deficiência intelectual moderada e, grave. As salas são adaptadas e cada disciplina é planejada para promover o desenvolvimento integral dos estudantes. O ensino vai da educação infantil à educação de jovens e adultos, sempre acompanhado por equipes que conhecem bem as necessidades dos estudantes e de suas famílias. O objetivo é que cada aprendizado tenha um significado no dia a dia, preparando crianças, adolescentes e adultos para superar desafios com mais independência.

Além disso, desde 2016, a Afece mantém o Bloco de Saúde, que evoluiu para se tornar o primeiro Centro Especializado em Reabilitação (CER IV) credenciado pelo Ministério da Saúde em Curitiba e na região metropolitana. Nesse espaço, os pacientes encontram atendimento gratuito em especialidades como fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia, psicologia, neurologia, clínico geral, oftalmologia, otorrino, reeducação visual. Só em 2024, foram mais de 50 mil atendimentos realizados pelo SUS. Desde 2021, a instituição já entregou mais de 1.030 cadeiras de rodas e 930 órteses e próteses, permitindo que centenas de pessoas recuperassem a independência na rotina.

Na assistência social, o compromisso é garantir apoio quando a família não pode estar presente. A Afece mantém programas de orientação sociofamiliar e convivência comunitária, além do Lar de Assis — uma residência inclusiva que abriga dez pessoas com deficiência intelectual e múltipla, com idades entre 18 e 59 anos. Ali, os moradores recebem cuidados diários e atenção integral, em um ambiente que reforça a ideia de pertencimento e dignidade.

Voluntariado: transformação de quem recebe e de quem doa

A Afece só chegou nesse patamar porque nunca esteve sozinha. Por trás da estrutura que atende mais de 900 pessoas estão histórias de voluntários como Elisabete, que colaboram na organização de bazares, apoiam eventos, participam de campanhas e oferecem o que têm de mais precioso: seu tempo. Esse esforço coletivo mantém a instituição viva e mostra que o voluntariado é tão indispensável quanto qualquer recurso financeiro.

Para quem se envolve, esse ato de doação também traz aprendizado. Elisabete, que dedicou quatro décadas a essa causa, diz que doar tempo muda a maneira como enxergamos a vida. “Essa forma de pensar, de ajudar quem precisa, transforma nossas vidas”, reflete. Na Afece, ela aprendeu a valorizar os gestos simples, principalmente o carinho com o qual tratam as crianças e suas famílias.

Com leveza, ela transforma sua experiência em um convite para aqueles que ainda estão pensando em dar o primeiro passo: “Estão perdendo uma grande oportunidade. A gratificação é imensa. Não precisa de dinheiro, apenas é preciso dedicar um pouco do seu tempo”.

Mirella Pasqual

Mirella Pasqual

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