Não decola o requerimento de Guilherme Machado

Sem Base na Realidade: Guilherme Machado Oferece Solução Que Já Foi Abandonada Mundialmente
O requerimento do vereador Guilherme Machado, em Maringá para o estudo da construção de um “aeroporto para drones” com a justificativa de facilitar entregas, é um exemplo clássico de uma boa intenção baseada em um modelo de logística completamente ultrapassado. É fundamental analisar essa ideia sob a ótica da realidade técnica e operacional de países líderes como os Estados Unidos, onde a entrega por drones já está sendo implementada.
O Modelo Americano: Hubs, e Não Aeroportos
Nos Estados Unidos, gigantes da logística como a Amazon (Prime Air) e a Wing (Alphabet) não estão construindo megaestruturas centralizadas. Pelo contrário, o sucesso da entrega por drone depende de uma rede descentralizada de micro-hubs. O drone é uma ferramenta de última milha, otimizada para voos curtos — tipicamente entre 5 e 15 quilômetros, partindo de um ponto o mais próximo possível do consumidor.
A infraestrutura ideal é compacta, econômica e distribuída: são plataformas de pouso/decolagem (vertiportos) instaladas no topo de centros de distribuição ou, como visto nas operações da Wing, em parceria direta com lojas de varejo. A loja se transforma em um “mini-hub” de lançamento, garantindo que o tempo de entrega seja medido em minutos, e não em horas. Para essas operações, não se exige pistas longas, grandes terminais ou hangares complexos; a necessidade é de estações de carregamento de bateria e áreas seguras para a preparação de pacotes.
Por Que a Centralização é um Erro Logístico
A proposta de um aeroporto centralizado ignora a premissa básica da eficiência de drones: proximidade. Exigir que todos os voos de entrega para a cidade partam de um único ponto distante resultaria em voos longos e redundantes, desperdiçando bateria e, ironicamente, aumentando o tempo total de entrega. Isso anularia a principal vantagem competitiva da logística aérea de última milha.
Além disso, a maior barreira para a expansão da entrega por drones não é a falta de espaço físico. A complexidade real está na regulamentação do espaço aéreo, conquistar a autorização da FAA (Federal Aviation Administration) nos EUA, ou da ANAC no Brasil, para realizar voos Além da Linha de Visão Visual (BVLOS) de forma segura e gerenciar o tráfego aéreo de baixa altitude. O foco da discussão deveria ser na segurança e na coordenação regulatória, e não na construção de pistas.
Conclusão: Onde Maringá Deve Focar seus Recursos
O conceito de “aeroporto para drones” está desconectado da realidade da tecnologia e representa um custo desnecessário para a população. A construção dessa infraestrutura centralizada é uma responsabilidade que cabe à iniciativa privada, que deve investir em seus próprios hubs modulares e descentralizados para atender às suas rotas logísticas.
O papel do vereador, e da Câmara Municipal de Maringá, deve ser o de facilitar o ambiente de negócios, incentivando a criação desses vertiportos privados e desenvolvendo uma legislação municipal que trate de temas cruciais como a segurança, a privacidade e o controle de ruído, permitindo assim que a logística moderna de drones decole de forma eficiente e sustentável na cidade. Investir em um aeroporto é construir a solução errada para o problema de amanhã.